quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

E ai meu irmão, cadê você?


O filme dos irmãos Coen é uma fábula deliciosa, que celebra a história rural norte-americana, com casos pitorescos que pontuam o período dos anos 1930 nos EUA, como a Ku Klux Klan, tudo embalado em uma trilha sonora impecável de canções country, blues, gospel do período, folk e deve ter também canções tradicionais (eu não sou “expert”, nem entendo muito de música, mas achei tudo muito bom.)

A fotografia do filme é linda. Todo em tons de marrons e verdes, lembra um filme em preto em branco só que com as matizes e o contraste realçados de forma a produzir uma imagem meio que não-naturalista, tipo “O Mágico de Oz”, se é que dá pra entender o que estou falando. E a interpretação dos atores não deixa nada a desejar, engraçados, assumidamente “tipificados” sem desvalorizar em nada o trabalho dos atores.

Li que a trilha sonora do filme contribuiu tanto, que o cd com as músicas vendeu mais cópias que o filme e derivou mais dois álbuns, dois concertos, ganhou o prêmio da música country com o hit “Man of Constant Sorrow”, que também foi escolhida a número 1 da lista da Billboard, e conquistou 5 Grammy`s, incluindo melhor álbum do ano. Mééu Dééus! Imaginem só!


Sinopse
Desencantado com a dura rotina de quebrar pedras numa prisão, fazenda do Mississipi, o engomado e bonitão Ulysses Everett McGill (George Clooney) foge. Exceto pelo fato de estar acorrentado aos seus dois companheiros de cela, o mau humorado Pete (John Turturro) e o doce burro Delmar (Tim Blake Nelson). Com nada a perder e procurado por um tesouro, os três embarcam na aventura de uma vida nesta hilariante e incomum aventura. Habilitado por estranhos personagens, incluído um profeta cego, sereias sexies e um vendedor de bíblias de um só olho (John Goodman). E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? é uma odisséia cheia de caçadas, perseguições e traições que vão fazê-lo gargalhar a cada ultrajante reviravolta.

E Aí, Meu Irmão, Cadê Você (Oh Brother, Where Art Thou, EUA, 2000)
Direção: Joel Coen e Produção Ethan Coen
Elenco: George Clooney, John Turturro, Tim Blake Nelson, John Goodman

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Preciso tanto!


"Preciso sim, preciso tanto. Alguém que aceite tanto meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis quanto meu ciclo etílico bukovskiano. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. Tanto faz, e sem dizer nada me diga o tempo inteiro alguma coisa como eu sou o outro ser conjunto ao teu, mas não sou tu, e quero adoçar tua vida. Preciso do teu beijo de mel na minha boca de areia seca, preciso da tua mão de seda no couro da minha mão crispada de solidão. Preciso dessa emoção que os antigos chamavam de amor, quando sexo não era morte e as pessoas não tinham medo disso que fazia a gente dissolver o próprio ego no ego do outro e misturar coxas e espíritos no fundo do outro-você, outro-espelho, outro-igual-sedento-de-não-solidão, bicho-carente, tigre e lótus. Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei. Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço."



Caio Fernando Abreu
Imagem: Martin Kovalik

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Rapidinha

Desculpem o sumiço.
Logo apareço.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Fahrenheit 451


(Fahrenheit 451, de François Truffaut, 1966, DVD, 111 Min.)

Françoise Truffot, foi, nada menos do que, um visionário ao criar num filme como este, que retrata, de certa forma, a civilização atual, um mundo claustrofóbico, onde o corpo de bombeiros, em vez de apagar o fogo, queima livros. Isso mesmo.

O corpo de bombeiros é uma figura metonímica representativa de uma ditadura, um estado totalitário e opressor, que determina o que devemos ou não fazer, o que é bom ou não pra gente. Um governo que obtém total controle sobre a sociedade...

Ler é uma atividade perigosa, portanto, proibida. Possuir livros é ilegal.

Os que seguem a regra, são, nada mais do que, fantoches humanos.

A alienação é representada pela televisão, o meio mais utilizado para evitar o uso criativo e
reflexivo do tempo livre. Ou seja, não há atividade criativa.

É o encontro com uma jovem idealista que permite ao protagonista começar a se indagar e indagar o sistema imposto, decidindo por romper a estrutura vigente e unindo-se as “Pessoas-livros”.

O filme é uma puta crítica à Indústria Cultural. No mais, é sobre autoritarismo, totalitarismo e controle de informação. Coisa que acontece até hoje: é mais fácil ter uma população de ignorantes para governar, pois a mesma oferece menos resistência, é mais fácil de controlar.

Obs: e o carro de bombeiros é luxo só! rs

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Estamira!


"A minha missão, além de ser a Estamira, é mostrar a verdade e capturar a mentira".
É assim que Estamira, a protagonista do documentário “Estamira”, uma senhora, catadora de lixo, que sofre de esquizofrenia, se define.

O filme nos arremessa aos delírios de consciência de Estamira, resultados da somatória de sofrimentos de sua vida...
...uma pessoa com idéias próprias, conceitos próprios, dialeto próprio...
...intensa nas suas convicções...

O mérito do filme não é só do fascínio que essa personagem exerce sobre a gente, mas também do caminho escolhido pelo diretor...

Marcos Prado encontra nas imagens granuladas, na alternância entre preto e branco e colorido, a sua estética visual...
...além de conseguir uma trilha sonora afinadíssima com os sentimentos transpostos ao expectador pelas imagens...

...em certos momentos, Estamira me pareceu puro sofrimento do excesso de consciência de que tudo está errado...
...se não tudo, pelo menos o que ela revela....à sua maneira...
....Marcos Prado nos mostra que a loucura não é nada mais do que um ponto de vista, como tudo é...
Esta-mira...
Sábia Estamira...



Aviso.


Para falar a verdade eu já não sei mais. Não quero saber.
Proponho-me ao exercício do desconhecer...

Não sei o nome dessa cor que trespassa os planos e pousa na luz, embaça os olhos e emudece a voz...
...ignorante, desafio meus próprios argumentos e razões que se auto-explicam não deixando nada que eu entenda melhor...

...sinceramente, não sei se sabe do que eu to falando, mas intuo que sim...

...tiro a venda dos meus olhos e custa-me a acreditar que sabe mesmo, e, mesmo assim, segue surdo, quase cego, indiferente aos momentos em que a minha pele se racha como casca e derrama água, ainda pura...

...como se isso não abrisse enormes abismos e determinasse aquilo que vai ser em você...

Instintiva, induzo o pensamento à frente e tateio no ar um obstáculo...

É certo que em mim lateja uma dor estranha e fina, certeza palpável que me faz sentir seus olhos abertos no escuro do quarto...

Então, meu corpo é um ninho repleto de sua falta, recolho-me aos braços daquele que não tem rosto, nem nome...

(Fotografia de Martin Kovalik)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O que você faria se se descobrisse cego?


Já que este blog é dado aos prazeres da alma, começo (agora, de verdade) com um livro que terminei por estes dias: “Ensaio sobre a cegueira” – José Saramago.

Saramago atinge uma dimensão “rara” (desde que boa) na literatura: ele questiona, exigindo da ética uma postura mais profunda que a de, simplesmente, pensar...

Um ensaio sobre a cegueira que nos faz enxergar...

Pode parecer paradoxal, mas é isso. É até pior. Nos faz ter medo da humanidade frente ao caos, ao descontrole e a sua própria desorganização...

Não demora muito para que tudo desabe. É a luta pela sobrevivência de um mundo alienado e auto-destrutivo, onde os olhos que não podem ver castigam as pessoas com todos os “acidentes” possíveis no mundo...

O medo e a intolerância, em um discurso corrente, faz com que os acontecimentos passem pela nossa mente quase que na velocidade da luz...rs, eles vêm aos bandos e com intensidade..., revelando o horror e a insanidade de “uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos”.
.
(roubei a capa e o link do sacundinbenblog... =D)

Bem-vinda eu, bem-vindos vocês!!!


E lá vou eu de novo, “re-”começar de repente, porque é assim que as coisas acontecem pra mim, quando menos espero, plaft, me derrubam com toda a força e intensidade....
...pelo menos é assim que tem sido nos últimos tempos...

Nesse de repente elas vêm pelo meio do caminho e sem muita leveza...

E continuam independentes de mim e dos outros...
Todas, absolutamente.

...acho que isso é só pra mostrar que de mim não precisam...

Eu não entendo direito. Parece que todo mundo sabe. Eu não.

Dúvidas, suposições, devaneios...
...imagem e som...
...riscos, rabiscos...
...palavras bem pensadas e mal escritas...
...pouco ditas...
...alguma coisa disso fica por aqui...
...às vezes um pouco a mais...