domingo, 27 de abril de 2008

Amor e outros desastres...


Triste mesmo é quando já foi diferente...

Pouco, quase nada.
Nem preciso repetir...

Tão pouco e tão muito que faz um vão por onde quase nada passa...

Mas o quase é o que basta à minha esperança, triste e tosca, em que vivo resignada, abandonada e esquecida...

Eu não sabia que existia, podia ser só um sonho romântico...
Mas não...

Triste é quando a gente viveu e não vive mais, algo que nos foi dado a conhecer e não a esquecer...
Parece ingrato, mimado e leviano dizer isso...

Mas triste é ter saudade, do que possa ser...

E ter vergonha de sentir e dizer, pra mim, é ainda pior...


"Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor."(Vladimir Maiakovski)




(Mais uma fotografia da Paulinha Huven – O espaço do que não está)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Legendado...



- “Vamos ao cinema?”

Depois de relutar, você diria:

- “Vamos lá pra casa, compramos pipoca e vemos um filme embaixo do edredon. Um edredon novo que comprei, bem grande, que faz a gente parecer duas crianças embaixo dele. Isso! Vamos voltar a ser crianças e fazer bobagens embaixo do edredon? Melhor ainda, vamos virar adultos sacanas e fazer bobagens ainda maior?”

- “Huummm...
O que você viu em mim?”

- "Ah", você diria, "eu vi alguma coisa que não sei bem o que é, que me prendeu e não consigo me livrar. E você?”

Aí eu explicaria em detalhes como me apaixonei pela consistência da sua pele, pelas dobrinhas das suas mãos, pela suavidade do seu ombro, pelos pelinhos do seu peito que se enrodilham nos meus dedos, por aquela curvinha que adoro apertar e faz você rir, pelo jeito que você sorri e aperta os olhinhos, e como isso supera todas as brigas, queixumes e discordâncias, porque você sempre soube quem eu era, antes mesmo da gente se conhecer...

Então você passaria de leve o dedo no meu rosto, pensando alguma coisa que não iria dizer e eu nunca saberei o que é...


(...)




...




(Fotografia "Two nudes with swallows" - Dois nus com andorinhas - de Evgen Bavcar)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Sobre meninos e meninas...


Solto um riso no meio da tarde...

É porque ouvi sua voz infestada de sonhos, risonha e incontida, sussurrando más intenções em meus ouvidos...

Rompantes de beijos incansáveis cortando frases, bocas urgentes na aflição dos pecados...
Pernas que se enrodilham desacertadas...
Sua força invade meus avessos e emudece meus dizeres...

Mãos perseguem-se, abatem-se, numa caçada incansável, e acabam por se devorar...

Seu nome me escapa por entre os dentes e seus olhos brilham ao encontrarem os meus...
Envergonhada, disfarço olhando pro lado...

É quando solta aquele sorriso improvável que só eu entendo, porque sei da sua censura de auto-felicidade...

É nesse mesmo instante que me compadeço da sua fome encantada de mundo e me sinto viva, impregnada...
...encho-me de coragem e volto a lhe olhar...

Encontro-me inteira dentro do seu peito...
Dessa forma é que me descubro incompleta, e, por isso, feliz...

Até que o cansaço abençoado da embriaguez dos nossos corpos se torna mais forte que tudo e nos faz enternecer em um momento que, mesmo adormecidos, evitam se distanciar...

Assim, desvendo o maior segredo do mundo: aquele homem, que por dentro tem menino, me faz mulher fora e me coloca menina dentro...




(Fotografia: "Só abro meu corpo...por amor" - Marco Lima)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Obrigada!

... "...estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço." ...


Não sei bem por que, a quê, ou a quem.... só sei que me achei contente hoje, como a muito tempo não me via, e tive vontade de me declarar feliz...

Não sei se por sentir o calor no corpo do sol escaldante...

Não sei se pelo banho torrencial de chuva que tomei (dessas de verão...dessas de lavar a alma e fazer escorregar carrapato), quando estava em cima do telhado (olha o perigo! rs), roubando limões da casa vizinha...

Ou por me acreditar mais próxima de mim mesma a cada dia que passa....

Coisas egoístas do tipo: estar viva, ter vários cantinhos pra fugir, minha família, meus amigos... Ser amada? (nem que pelos amigos e familiares...)

Gostar do que faço, ler, escrever...
Viver coisas que vivi, simples, ínfimas, intensas, explosivas...

Desde lançar pedras ao rio....

Sentar debaixo da árvore e ver na flor o corpo despido da roseira...

Gargalhar e não segurar a pasta de dente....

Mergulhar em Copabacana e fazer acrobacias, à meia noite, junto da minha fiel companheira e um árabe maluco, recrutado no caminho...

Fazer cafuné na minha "filha" e dormir tudojunto porque ninguém quer se separar...

Voar como se fosse a coisa mais corriqueira e depois despencar desengonçada, como quem cai da cadeira...

Até alcançar cega, como tantas vezes, as mãos do trapezista, sem rede, nem nada...
E também, como tantas vezes, me machucar...
Mas é cair e levantar...

Me camuflar nas palavras....
Escrever nas últimas páginas, nos cantinhos, nas bordas, no arame, embaixo dos pés....

Acho que estou começando a entender aquele negócio da gente levar a vida inteira pra se tornar a gente mesmo...

Bom ter vocês por perto e saber que enquanto me decomponho, me multiplico também...

É isso, acho que no final, só queria agradecer...
Então....
Muito Obrigada!!!

sábado, 12 de abril de 2008

Fragmentos...




Ela - Quando tu vieres pra cá, podes ficar lá em casa.

Ele - Não precisa, não quero incomodar.

Ela- Huh, tá com medo é?

Ele - Tenho medo não, fí­a, o que um não quer dois não fazem. Só não quero que me convides para ficar aí por pura educação.

Ela - Tu sabes que eu não tenho educação.


(Cafeína - Calexico)

terça-feira, 8 de abril de 2008

Acossado


Bom, faz tempo que estou pra postar sobre o filme “Acossado” (1959), de Jean-Luc Godard, seu filme de estréia...

Acho que a demora foi porque fiquei pensando demais sobre o filme e no final já não sabia mais o que dizer...
...às vezes acontece o inverso do que “o normal”: as idéias em vez de se multiplicarem, sintetizam-se....
...e é mais ou menos isso...

O “Acossado” é um filme que deu as costas para as regras de seu tempo, por isso, talvez, tenha conseguido expressão própria e sido um marco no Cinema...
...além, é claro, de colocar em xeque o feminismo (com uma das mais delicadas e lindas atrizes da época, a meu ver...)

“Acossado” tem ritmo próprio, “descontínuo” (no sentido de ser autônomo)...

Godard expõe idéias em vez de histórias, ai está o grande X da questão!!!

A censura brasileira o tinha como o pior dos cineastas da Nouvelle Vague, enquanto Glauber Rocha o venerava...
Li que o chamava de ''revolução permanente''... rs

Humberto Pereira da Silva, professor de filosofia da USJT, disse sobre o filme em uma artigo sobre Godard: “Um Godard, um Peter Greenaway, um Andy Wahrol, um Edward Hopper não são datados justamente porque inquietam, geram polêmicas e controvérsias acerca dos limites da arte numa sociedade de consumo e incompreensão de críticos afeitos aos clichês do momento. Desde as vanguardas do início do século passado, o valor de uma obra de arte está também naquilo que Celso Favaretto chama de "acontecimento". E essa lição não devia passar despercebida pelos críticos atuais do autor de "Acossado".”

SINOPSE (a melhorzinha que achei) Homem rouba um carro e mata um policial antes de seguir para Paris. Lá, ele se esconde na casa de uma mulher, que tem o desejo de ser engravidada por ele. Quando ele perde a consciência e comete alguns pequenos delitos, dá também a brecha para os policiais o acharem e darem início a sua perseguição final.


Outros cartazes:








sexta-feira, 4 de abril de 2008

De ponta...



Porque existe essa coisa estranha, imbecil e ansiosa que fica colocando essa idéia boba na nossa cabeça de que a gente pode lugar e brigar e insistir por tudo...

...e que só falta mais um pouquinho, e que não vale desistir agora e deixar tudo se arruinar...

...e quando isso acontece, eu pulso forte e me torno provocativa de tanto gotejar, porque acho que não vou dar conta...

...mas ao mesmo tempo, vejo que tudo, nada mais é do quem um tempo desesperado e incerto, que vai passar...

...e ai, me despertando, volto a sentir o cheiro da brotação que ainda nem subiu na terra e o despejo de palavras benditas que um dia ouvi e guardei...
....coisas que por instantes me re-inventam os prumos, os rumos e as vertentes que me fundem em sede e insanidade...

...e o vento no rosto e os olhos ardidos, que me lembram do mar...
...um mar que trago nos olhos e na boca, salitre, sol, ardência e frescor...

...remeto ao oceano que faço em mim....
...me despedaçando ao vão, sem infinito, sem dimensão e sem razão...

...porque a felicidade pode estar no prefácio, no contrário ou no extremo das coisas, depende de quem vê....
...quando ela não está ali, na coisa em si...


(não sei de quem é a fotografia...peguei na net, em um site suRper legal, mas sem créditos! Se alguém souber...)

terça-feira, 1 de abril de 2008

Era uma vez...

Faz de conta que eu sou uma criatura forte...

Faz de conta que ao tomar uma resolução eu nunca mude de idéia...

Faz de conta que eu escreva algum dia coisas que desnudem um pouco a alma humana, ou pelo menos a minha...

Faz de conta que eu falando sorrindo sem perceber...

Faz de conta que um dia ganhei asas, e, nesse dia, aprendi a voar...

Faz de conta que estou sempre pronta pro que der e vier, que a vida é agora, e que o ontem já passou...

Faz de conta que sou ríspida, distante e alheia com quem amo, e que, mesmo assim, eles são felizes, bem felizes, faço de conta, então, que os odeio...

Faz de conta que eu entendo o que as pessoas cantam em inglês e que não repito só o finalzinho da frase...

Faz de conta que eu tenho menos defeitos do que realmente tenho e que nunca minto...
Faz de conta que entre meus defeitos existem algumas qualidades...

Faz de conta que eu sei encher o mundo com palavras carinhosas e que sei inventar carinho...
Faz de conta que eu não me arrepio com um beijinho na nuca...

Faz de conta que sou atriz...

Faz de conta que basta uma flor para alegrar a minha vida...

Faz de conta que eu me importo com o meu voto desperdiçado e que sou tão engajada politicamente como meu avô era nos tempos militares....

Faz de conta que ontem teve pão de queijo, que a geladeira e a dispensa estão lotada e que guardo temperos em tubinhos como os alquimistas...
Faz de conta que eu adooooro cozinhar...

Faz de conta que eu não guardo rancor, nem mágoa, nem tristeza....
Faz de conta que sou uma pessoa madura, já estou em outra dimensão, um nível acima...

Faz de conta que eu não lembro de nada de ruim do que ficou no passado e que não sofro com os desprazeres do presente...

Faz de conta que eu entendo os homens, com toda a sua maturidade e vontade de não ter obrigação nenhuma, e que isso não se contradiz...

Faz de conta que não entristeço e amiúdo diante das suas mãos e só de olhá-las, caibo na concha que elas se recusam a fazer...

Faz de conta que suas mãos poderiam me juntar minúscula, enroscada em delicadeza e afeição, que poderiam me envolver de ternura, dócil e quieta, e que bastaria me encontrar entre o espaço morno entre seus dedos para me achar de novo...

Faz de conta que você gosta de mim da mesma forma que eu, de você...

Faz de conta que eu não me desfaço em lágrimas ao perceber que muita coisa disso não é “faz de conta”...

Faz de conta que hoje não é 1º abril...