Faz de conta que eu sou uma criatura forte...
Faz de conta que ao tomar uma resolução eu nunca mude de idéia...
Faz de conta que eu escreva algum dia coisas que desnudem um pouco a alma humana, ou pelo menos a minha...
Faz de conta que eu falando sorrindo sem perceber...
Faz de conta que um dia ganhei asas, e, nesse dia, aprendi a voar...
Faz de conta que estou sempre pronta pro que der e vier, que a vida é agora, e que o ontem já passou...
Faz de conta que sou ríspida, distante e alheia com quem amo, e que, mesmo assim, eles são felizes, bem felizes, faço de conta, então, que os odeio...
Faz de conta que eu entendo o que as pessoas cantam em inglês e que não repito só o finalzinho da frase...
Faz de conta que eu tenho menos defeitos do que realmente tenho e que nunca minto...
Faz de conta que entre meus defeitos existem algumas qualidades...
Faz de conta que eu sei encher o mundo com palavras carinhosas e que sei inventar carinho...
Faz de conta que eu não me arrepio com um beijinho na nuca...
Faz de conta que sou atriz...
Faz de conta que basta uma flor para alegrar a minha vida...
Faz de conta que eu me importo com o meu voto desperdiçado e que sou tão engajada politicamente como meu avô era nos tempos militares....
Faz de conta que ontem teve pão de queijo, que a geladeira e a dispensa estão lotada e que guardo temperos em tubinhos como os alquimistas...
Faz de conta que eu adooooro cozinhar...
Faz de conta que eu não guardo rancor, nem mágoa, nem tristeza....
Faz de conta que sou uma pessoa madura, já estou em outra dimensão, um nível acima...
Faz de conta que eu não lembro de nada de ruim do que ficou no passado e que não sofro com os desprazeres do presente...
Faz de conta que eu entendo os homens, com toda a sua maturidade e vontade de não ter obrigação nenhuma, e que isso não se contradiz...
Faz de conta que não entristeço e amiúdo diante das suas mãos e só de olhá-las, caibo na concha que elas se recusam a fazer...
Faz de conta que suas mãos poderiam me juntar minúscula, enroscada em delicadeza e afeição, que poderiam me envolver de ternura, dócil e quieta, e que bastaria me encontrar entre o espaço morno entre seus dedos para me achar de novo...
Faz de conta que você gosta de mim da mesma forma que eu, de você...
Faz de conta que eu não me desfaço em lágrimas ao perceber que muita coisa disso não é “faz de conta”...
Faz de conta que hoje não é 1º abril...