sábado, 29 de março de 2008

Com muito prazer e dor

Chega um dia na vida que é assim, a gente cansa da vida de diabético em confeitaria e resolve evadir...
..conscientemente, claro, e com o peito dolorido de coragem e dor...

Mas decidi!!!

Decidi por uma vida onde tudo vai ser poesia, vai ser prosa...
Tudo vai ter sentido, vai ter cor...
Vai ter todas as cores do mundo...
Tudo vai ter graça, vai ter raça, e, por que não, como já dizia o poeta, vai ter fé...

Sim, eu sei. Não é assim que costumo escrever, mas é que hoje fui acometida por uma vontade brutal de revelar e agradecer...

Vai ver é porque as minhas mãos e meus lábios, que já não tem mais o pudor de antes, resolveram libertar os sentimentos e palavras há muito engasgadas em minhas entranhas e foram me buscar lá no quinto dos infernos, onde me encontraram desesperada como criança perdida...

...resolveram libertar todas aquelas palavras que saciam a minha vontade de lutar por mim, pra poder ser o que sempre fui e quem pretendo ser: eu mesma....

Nada de grandioso, ou extraordinário.

Muito prazer.
Doa a quem doer...

(em off: rimou! rs, será que estou voltando a velha forma?)


Fotografia de Klaus Mitteldorf

quarta-feira, 26 de março de 2008

Coisas, quases e talvezes...


Queria escrever uma coisa bonita, mágica, doida, feliz, uma coisa verde quase grama...

Queria escrever uma coisa quase-pétala, meio rosa, meio vermelha, meio branca e amarela também....

...uma coisa que fizesse sorrir os olhos, desse fome encantada e deslumbre para procurar mistérios...

...uma coisa que desse certezas e forças e um caminho que chegasse até a mim, (mas sem “quases” ou “talvezes”, como a gente vê nas histórias que contam por ai, essas coisas que um dia podem acontecer....)

Mas a vida é mais doida do que a coisa que eu queria escrever, porque ela desinventa tudo com uma crueldade amarga demais...

E quando vejo, o que tenho a dizer é imbecil e inquieto que nem vale a pena...

Porque tudo é tanto e tão muito, que me canso e murcho, me apequeno, encolho e abraço as pernas, porque assim me sinto mais perto de mim...

E é ai que quase desapareço de tanta tristeza e desesperança...

Depois acho distração no mundo...

Brigo com o vento brincando de lutar, faço poesia malfeita, encho um copo de água pra ver se me preencho...

Mas eu sei que assim não adianta tentar...

Então é ai que me dá vontade de escrever uma coisa bonita...

Encho uma garrafa com palavras e imagens guardadas, mexo bem, volto os olhos pra janela que se abre para o céu, que hoje nem azul está, e não me canso de esperar não sei bem o quê...

E o que eu tinha pra dizer foi esquecido.




(Fotografia de Loretta Lux)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Dessa vez, "pérolas"...


Chove em mim torrencialmente, só agora, depois da vertigem, estou começando a aprender...
Desfio algumas pérolas em contas de lágrimas...alivia....

De algum modo meu céu tenta lavar os pastos ocres, verdes e cinzas por que passei...

Não sei o que aconteceu que o que há de triste em mim, resolveu, há pouco, tudo de uma vez, como um tufão, verter em meus olhos umas lágrimas meio doce, junto transborda um tanto de alma...

Estou sem estrela nos olhos, de pés descalços, está tudo encharcado, alagado...
Estou sem menina dentro, como diria Clarice...

Quero chamar a menina pra brincar na chuva, pra sair e pisar a terra e se melecar inteira de lama...
...e também pra bagunçar os cabelos e roubar flores...

Espero que apareça....
...mesmo que felina e com tristeza nos olhos, tristeza por virar felina...

...mas a menina dentro quer sair e quer brincar...
...um dia ela aprende a se virar, um dia ela aprende a viver e, quem sabe, a amar...

Para onde será que foi a felicidade que estava em nós?
Deve estar brincando de esconde-esconde com a menina lá de dentro...

Ah, mas quando essa menina aparecer, vou lhe ensinar que isso não se faz...
Não se sai pra passear sem aviso... assim!!!

Desse jeito a gente quase morre do coração...



(Fotografia de André Meier)

sábado, 22 de março de 2008

Sombras de Goya


Sombras de Goya (Goya`s Ghosts. Espanha/ 2006)


Natalie Portman, Javier Bardem, Stellan Skarsgård, Randy Quaid, Balbino Acosta, Wael Al Moubayed, Simón Andreu
Direção: Milos Forman
Drama/ 118 min./ 14 anos


Estava com uma expectativa enorme para assistir “Sombras de Goya”, que teve seu lançamento adiado, tanto aqui como no exterior, acabei, de certa forma, surpreendendo-me com o filme...

Mais do que Goya, o seu protagonista é a Igreja Católica. Uma história contundente em momento histórico de profundas transformações sociais. Retrata mais as incursões sádicas da igreja católica, as absurdas questões religiosas e o tamanho domínio e opressão de uma entidade que tanto matou em nome de Deus, do que propriamente a vida de Goya...

Goya, na verdade, é um elo que une a vida de duas personagens retratadas por ele e que vão se revelando no desenrolar do filme...

Inês, vivida por Natalie Portman, uma linda e rica adolescente; e Lorenzo, interpretado por Javier Bardem, um padre envolvido com a Inquisição Espanhola...

Um vê o retrato do outro em diferentes situações no estúdio de Goya e logo em seguida se encontram: Inês é presa pela Inquisição injustamente e Goya, a pedido da família de Alicia, intervém a Lorenzo para que ele a ajude...

Submetida à tortura, a jovem conhece o horror e a solidão, sem que sua família possa fazer nada a respeito. O fundamentalismo cristão era quem dava as cartas naquela época...

Contudo, Lorenzo, além de não conseguir ajudá-la, ao visitá-la na prisão é dominado por suas próprias tentações...

Quando Inês sai da prisão, onde perdeu sua juventude (quase duas décadas se passaram), encontra sua família chacinada na própria casa e a única pessoa que lhe restou foi Goya, a quem recorre ajuda para que lhe ajude a encontrar a filha que teve na prisão e que tiraram de seus braços...

Maquiagem, figurino e Direção de Arte são excelentes. Conseguem recriar o passado com a precisão e delicadeza que uma super-produção requer.

O filme traz algumas imprecisões históricas, mas não podemos esquecer que o que vemos é uma ficção (mesmo baseado em alguma realidade).

Goya era o artista mais famoso da Espanha. Contratado por reis, burgueses e pela Igreja para registrá-los para a posteridade, levava uma vida de privilégios, mesmo se manifestando contra a Igreja, que o contratava com suas gravuras e pinturas reveladoras do tempos de Inquisição...

No filme, acaba por se tornar um observador, um “voyer”, angustiado pela sua impotência perante os problemas alheios (que inclui amigos próximos), traduzindo em suas telas e gravuras os horrores de seu tempo...

O principal deles é a invasão dos franceses que acaba por abalar a Inquisição e dizimar a Espanha...

Para mim, o título do filme, “Sombras de Goya”, remete muito mais às figuras que permeiam a obra de Goya: vítimas da guerra, vítimas da inquisição, prostitutas, do que qualquer outra coisa...

Goya podia ser reservado na vida, mas foi corajoso na Arte...
Ele sabia que estava deixando um testemunho sobre seu tempo...

Encontrei dos "sites oficiais": este em Inglês e este em Espanhol

Outros cartazes:











Ia colocar a sinopse, mas acabei falando mais do filme do que de qualquer outra coisa, então, acho que não precisa...

Trailer no Youtube
Trailer no Youtube Legendado

segunda-feira, 17 de março de 2008

Ninguém é de ninguém...

É bonito a gente ser feliz...
É bonito ver os outros felizes...

Viver no escuro, às vezes, também não é má idéia não...

Você pode passar a vida inteira sem ter noção das incapacidades, limitações e defeitos e, ainda assim, e especialmente por isso, ser incondicionalmente feliz....

Fácil uma mãe dar a luz e depois abandonar a criatura à própria sorte...
Sem essa de lamber a cria, fazer planos, amamentar...
Elas que aprendam a engatinhar sozinhas, sustentem-se e alcem vôos...
Ou então, que se rastejem, percam-se por aí, seja o que Deus quiser...
Pronto!!! Já estão no mundo, virem-se...

Cada um por si, e eu com isso? Nada. Nem aí.

Mais fácil ainda é olhar para o outro e dizer "a culpa é sua, agora se vira"...
Pronto. Mãos lavadinhas, alma tranqüila, sono bom...

E o mais fácil de todos, o mais fácil do mundo, é hoje conseguir abraçar e sorrir pra você...
Chegar até você com passos seguros, sem temer que o passado, de alguma forma, possa me engolir...

Espera! Tem alguma coisa errada aqui...

Depois de algum tempo você se vai e passa a pertencer a um passado lindo...
É isso?

Não! Definitivamente, não.
Você não pertence a nada, nada pertence a ninguém, você não pertence ao meu passado, porque nunca foi meu, porque ninguém é de ninguém, não é mesmo, não é simples assim? - e os meus sentimentos em relação a você e a recordação que tenho é.... hã...algum tipo de ilusão, só pode ser...

Então tudo bem, eu não quero discutir...
É você quem tem as certezas sobre os atos de viver, quem sabe dos pormenores teóricos daqueles assuntos complicados que só comecei a aprender agora...

Que bom que você sabe quantos de você vivem em você mesmo e quantas deles sabem de si, apesar de ninguém ser imutável...

Que bom que você sabe das coisas. Assim fica tudo tão mais simples....
Sabe onde é o norte, onde é o sul...
A bússola é você!!!

Os outros? Ah, os outros são os outros...

Daí PLOFT!!!! Um belo dia resolvem acender a luz e a gente vê quê...
...pode não ter mais volta...

Porque não faz sentido a gente buscar, buscar, pra nunca encontrar...

E mesmo se passamos anos curando uma ferida que causava dor desumana, daquelas injustas de compartilhar, que a gente guarda pra gente, lambe, tira a casca, e vê ela se abrindo centenas de vezes e deixando a gente desconfiado se vai se romper de novo ou não...

E então a gente se esconde, e esconde a ferida também, pra não permitir que ninguém mais a veja...
Agora, porque Deus é pai, sempre sobra apenas uma cicatriz esbranquiçada...

As cicatrizes são do tamanho da nossa necessidade de lembrar a razão do ferimento...
E olhe que elas sempre vão minorando com o tempo...

Isso, porque é importante a gente lembrar de onde vem, como chegou até aqui, que batalhas travou, e não ser covarde, não de novo...

Porque a gente se reinventa sempre...
Inauguramos nossos olhos cada vez que os abrimos...

O amor não mora só em mim, ou só em você. Mas no encontro...

Naquele encontro sem artimanhas nem manipulações, da conjunção simples e pura de acordar, respirar e sorrir dizendo: “Bom dia”...

Somos um processo...
Somos uma notícia boa que o outro quase não esperava mais....



(Fotografia de Paula Huven, da série "O espaço do que não está")

quinta-feira, 13 de março de 2008

Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres


“Eu já poderia ter você com meu corpo e minha alma. Esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira.”

Clarice consegue narrar o indizível, os pequenos nadas, sem cair no vazio e na ausência, ela se apresenta nas entrelinhas como fonte de reflexão...

O livro começa com uma vírgula, antes de qualquer palavra, um período aparentemente incompleto, sem "começo”, parecemos “invadir” uma história, sem preparação, nem coordenadas...

Esmiuçando as dúvidas e anseios de Lóri, personagem principal, que pela primeira vez experimenta o amor e o prazer com Ulisses, professor universitário de filosofia com quem mantém um relacionamento, apresenta o “processo”...

...mas Lóri tem medo de perder a própria identidade no "processo"....
O processo, naturalmente, é a sua lenta e solitária aprendizagem, é aprender a amar, a ultrapassar a ausência e o silêncio, construir a nova realidade até chegar ao ato sexual como um amor total, pleno (o que não significa que antes fosse virgem)....

Ulisses e Lóri estão se construindo como sujeitos. As personagens seguem suas trajetórias, mostrando que a existência é construída a partir de escolhas nem sempre conscientes...

Lóri compreende que não deve excluir os acontecimentos simplesmente porque ultrapassam sua compreensão, mas também não quer perder-se na alienação de si mesma, não deseja naufragar no auto-conhecimento....

"Era cruel o que fazia consigo própria: aproveitar que estava em carne viva para se conhecer melhor já que a ferida estava aberta. Mas doía demais se mexer nesse sentido" (pág. 27).

A história de Lóri é feita de retalhos. Ela se desarticula e se faz renascer segundo a medida de suas descobertas. Através de uma relação afetiva, ela se enxerga mulher e tenta abrir as águas do mundo pelo meio, desnudando o medo e deixando fruir a paixão...

Com Lóri, Clarice desnuda as emoções...
...identifica o propósito da vida humana de buscar intensamente o prazer e evitar o sofrimento...

Em Lóri, a descoberta do prazer está no limiar do sofrimento e com o aprendizado vai conseguindo deixar-se inundar pela alegria aos poucos...

“Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos. A solução para esse absurdo que se chama “eu existo”, a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista.” (pág169).

Depois de vários encontros nos quais conversavam sobre a "aprendizagem" de Lóri, Ulisses diz a ela, num dado momento que, a partir daquele momento, não mais a procuraria. Ela está "pronta". Ulisses diz que vai esperar que ela vá procurá-lo, e pede que ela não telefone avisando: "Queria que você, sem uma palavra, apenas viesse".

A entrega finalmente física dos personagens se realiza com êxtase. Para Lóri, a atmosfera era de milagre; Ulisses, estava sofrendo de vida e de amor. Nada termina. O momento anuncia uma nova começo: "ambos estavam pálidos e ambos se acharam belos."

Clarice se insere sabiamente fechando com dois pontos a narrativa que começara com uma vírgula...

Aprender é muito mais do que um processo lógico; é um procedimento com o prazer da vida diante da multiplicidade dos valores humanos, é algo que sempre se renova, contínuo, que se desconhece o fim (como no livro)...

“uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse seu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.”


Tentei colocar o livro para download no sharebee mas não consegui, então disponibilizei no zshare e no badongo, deleitem-se, cometam esse delito...

terça-feira, 11 de março de 2008

Fricção Chocolate - Por Calexico



"Caminhamos ao encontro do amor e do desejo.
Não buscamos lições, nem a amarga filosofia que se exige da grandeza.
Além do sol, dos beijos e dos perfumes selvagens, tudo o mais nos parece fútil."
Albert Camus



"Assim, deitado na cama com a luz apagada, olhando para o teto, distraía-se com as sombras em movimento dos carros que passavam na rua.


De um deles saiu, por alguns segundos breves (mas longos o bastante para que a reconhecesse ) uma música da adolescência. "Seria assim para sempre/Se nos apaixonássemos/Esta noite é para sempre/Me diga que você concorda/Esta noite é para sempre/Abra a porta, você tem a chave".


Numa tontura de vertigem, lembrou de suores que muito escorreram de suas costas ao som de músicas assim, abafadas, molhadas, meladas.Como o suor de quem você deseja tem gosto bom, "o salitre do feromônio" um dia lhe disseram. Que bobagem. Que coisa mais besta lembrar de como é passar a língua por trás de uma orelha e mordiscar de leve o lóbulo, quando a vontade que dá é de morder com força. Não chamam por aí o ato sexual de "comer" à toa. A coisa é essa; comer um chocolate que nunca acaba. Não por fome, mas por desejo.O tic seco do relógio o tirou do transe, marcando uma hora irrelevante da madrugada. Se é madrugada, a hora não importa, pensou.


-Tá acordado?


-Sim.


-Viajando?


-Distraído.


-É bom.


-É?-...


-...


-Vem aqui, me abraça.


-Te abraço.


-Já te disseram que você é um homem-aquecedor?


Caíram na risada.


-Como assim?


-É. Com você abraçando assim forte, fervendo desse jeito, a gente não passa frio. E quando você me encerra nos teus braços e as tuas mãos se trançam na minha barriga, eu só sei sonhar, porque da realidade não me resta nada melhor.


-Chocolate. Eu estava pensando em chocolate. Num chocolate que nunca acaba.


-Eu?


Sorriram. E não era preciso se olharem para saberem que ambos sorriam.


-Sabe de uma coisa?


-O que?


-De manhã, quando eu for embora, vou te levar comigo, como a gente leva o gosto do chocolate na boca depois de comer. Você vai sentir falta do pedaço que eu vou levar, vai precisar dele e de mim. Mas nunca mais vai me ver..."


(Parte de um texto escrito por Calexico)

segunda-feira, 10 de março de 2008

Mais de você...


Sem você é como se vivesse aos pouquinhos, pedindo licença e por favor...
Como se cada instante me fosse dado como esmola...

Assim vou me rasgando por dentro e arranhando minhas próprias costelas, abrindo chagas que não tenho certeza se cicatrizarão...

Sua falta caçoa da minha força e sanidade...
Flagelada, preciso mais de você.

Mais de você entre meus dedos, embaraçado entre meus braços e pernas...

...mais de você nas minhas imagens e frases, nas minhas linhas, nas minhas frestas...

...mais de você em um cafuné atemporal, em olhar, em um carinho...
....na minha memória, nos meus sentidos, nos meus gritos e gemidos...

...nos meus dias e noites...

...um pouco ainda nos meus sonhos, para que, assim, possa parir-me ao contrário todas as manhãs e não ter medo de me deitar entre cobras enquanto observo pássaros, ou ferir os pés nas pedras da calçada...

...de chorar miséria, sangrar sorrisos, dançar sobre os trilhos do trem, viver entre a loucura e a sanidade...

Só um pouco mais...
Mais de você em mim...

Se deixe vir comigo...

domingo, 9 de março de 2008

Onde a Terra Acaba


Onde a Terra Acaba
Direção: Sérgio Machado
Produção: Brasil, 2001

Bom, a minha intenção era postar um texto literário ou algum rabisco meu mesmo, mas resolvi aproveitar a deixa do meu xuxuzinho que postou em seu blog um bônus com a trilha sonora do último filme que assisti e trazer para vocês “Onde a Terra Acaba”.

“Onde a Terra acaba” traz a análise sobre a carreira e obra do cineasta Mário Peixoto, o mesmo que realizou, aos 21 (ou 22, não tenho certeza), “Limite”, marco na filmografia brasileira por ser um dos mais inovadores e experimentais filmes da história do cinema mudo.

Traz ainda, fragmentos de um longa inacabado de Mário Peixoto, com esse mesmo nome, e imagens de bastidores das filmagens de "Limite". Essas são suas principais atrações...

Narrado por Matheus Nachtergaele, a vida de Mário Peixoto é apresentada por ordem cronológica: os estudos na Inglaterra, a volta ao Brasil, a aventura com a produção de “Limite”, a experiência não finalizada com “Onde a Terra Acaba” e a sua fuga para o “Sítio do Morcego”...

Aliado a essas imagens, o diretor traz de forma delicada um vasto material de arquivo e depoimentos de gente que conviveu com Peixoto (a atriz de "Limite" Olga Breno, o caseiro de seu "Sítio do Morcego", na Ilha Grande) ou sofreu o impacto de sua obra (Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Walter Salles).Nesse material de “making of” podemos ver o diretor de fotografia de “Limite”, Edgar Brazil, inventando planos prodigiosos para resolver questões de um plano de filmagem financiado pelo próprio Mário...

O filme faz um apanhado do pioneirismo de Peixoto, sua inventividade e caráter inovador, apesar de ter escrito outros roteiros, mas só ter produzido “Limite”...
O mais interessante em “Onde a Terra Acaba” é que, quando você vai pensar sobre o filme, acaba por imaginar algo sobre outro filme...

“Onde a Terra Acaba” e “Limite” parecem ser meio híbridos...

Com a trilha sonora circular e atemporal de Antônio Pinto, o que poderia significar algo monótono, acaba por tornar o documentário uma obra lírica e poética, de extremo cuidado e que ressalva ainda mais a questão que tanto atormentava Mário Peixoto, “o tempo”...

....o tempo de cada um, sua frivolidade e inconsistência...

Então, quem quiser baixar uma música da trilha, o bônus está junto com “Central do Brasil”, no Sacundinbenblog.

Ou direto aqui...

Ah, já ia esquecendo...prefiro essa trilha à de "Limite" mesmo, que peca em algumas cenas pela falta de concordância entre a imagem em cena e o "sentimento/sensação" que "quer" passar, como no final, na cena do naufrágio... (nossa! me senti prepotente dizendo isso...pode ser que tenha sido só em mim, vai saber...)

sexta-feira, 7 de março de 2008

Cidades Invisíveis


Cidades Invisíveis

...uma viagem por cidades imaginárias...

...contos onde tudo pode ser sonhado, imaginado, em um discurso que revela o mais escondido dos desejos, o mais inesperado dos sonhos e medos...

...um quebra-cabeças repleto de revelações...

...revelações secretas, porque são percebidas nas entrelinhas do não-dito...

...metáforas que abrem diversas possibilidades de interpretação...

...às vezes parecem perspectivas enganosas, dúbias, ambíguas, paradoxais....

...são cidades para serem percorridas com o pensamento...

...elas tornam-se símbolo da existência humana e de suas relações...

...em cada cidade, uma poesia...


Sinopse

O viajante veneziano Marco Polo descreve para o imperador Kublai Khan as cidades que visitara. O desejo de Khan é montar o império perfeito a partir dos relatos que ouve. São lugares imaginários, sempre com nome de mulher Pentesiléia, Cecília, Leônia. Os relatos curtos são agrupados por blocos: as cidades e a memória, as cidades delgadas, as cidades e as trocas, as cidades e os mortos, as cidades e o céu.

“As Cidades Invisíveis” é o livro onde penso ter dito mais coisas, talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas", escreveu Calvino nas anotações para uma conferência, publicada postumamente como "Seis Propostas para o Próximo Milênio", um de seus maiores hits.

terça-feira, 4 de março de 2008

Barton Fink - Delírios de Hollywood




Barton Fink - Delírios de Hollywood
Joel e Ethan Coen – 1991

Em 1991, “Barton Fink – Delírios de Hollywood” deu aos irmãos Coen o prêmio de melhor filme – a Palma de Ouro – escolha unânime do júri, melhor diretor e melhor ator no Festival de Cannes.

Barton Fink (John Torturro), personagem principal do filme, depois de fazer sucesso na Broadway com sua obra teatral, é recrutado por Hollywood para fazer cinema. Contrariado pela pressão criativa da indústria cinematográfica, instalado em uma espelunca, Barton conhece Charlie Meadows (John Goodman) e se mostra um homem que não sabe ouvir...

E como contar histórias de pessoas comuns se é incapaz de ouvi-las?

Barton é surdo aos apelos do povo. Eles só lhe interessam como apelo estético...
Não como apelo ético...

É uma espécie de máquina de trocadilhos que permeia o filme, a começar por Barton: ambicioso intelectualmente, não aceita que o problema esteja na sua incompetência para entender seu objeto....

Nãããão, ele está é com bloqueio criativo, um misto de demência inteligente...

Atormentado por essa dificuldade de produzir, os irmãos Coen conseguem fazer de Barton Fink um drama irônico com toques surrealistas...

Todas as personagens são um pouco grotescas, exageradas, distorcidas, movendo-se no limiar da “normalidade”...

Humor negro, crimes, personagens perturbados e caracterização irônica (aquela “tipificação” que havia falado anteriormente), “Barton Fink – Delírios de Hollywood” é o paraíso das mensagens subliminares, daquilo que está dito no não dito, das entrelinhas...

Se continuar falando, vou contar o filme...e é melhor não.
Vale a pena assistir!!!


Sinopse
Depois de escrever uma peça política de grande sucesso, o respeitado escritor Barton Fink (vivido por John Turturro) é seduzido por uma proposta irrecusável: criar roteiros para o cinema. Porém, ao se mudar para Los Angeles, o que antes era um instigante desafio profissional acaba se tornando um insuportável pesadelo. Agora, além de ter de agüentar um bloqueio criativo, Barton se vê obrigado a aturar seu vizinho bonachão (John Goodman) e ainda vender sua alma aos interesses comerciais de Hollywood.

Direção: Joel Coen (com Ethan Coen, mas sem crédito oficial). Produção: Ethan Coen, Roteiro: Joel Coen e Ethan Coen. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Joel Coen e Ethan Coen (creditados como Roderick Jaynes).

Trailer "Barton Fink" - Youtube
Roteiro de “Barton Fink” em Inglês

segunda-feira, 3 de março de 2008

Ajuste Final




Ajuste Final (Miller’s Crossing, 1990)

Resolvi fazer uma pequena sessão “Irmãos Coen”. Dessa vez trago “Ajuste Final”. O filme poderia ser mais um filme de gângster, mas nada parece ser o que é no cinema dos Coen. “Ajuste Final” é um mundo criado e fechado em si.

O filme mostra o lado sombrio e selvagem dos seres humanos. Em uma entrevista os Irmãos Coen disseram que a inspiração foi literária, talvez por isso o filme não seja como todo filme de gângster. O que move o filme é a “ética”, mas a “ética” de cada personagem, a “ética” individual (tanto é que um personagem do filme vive repetindo essa palavra).Tudo é um mundo de aparências, um mundo ilusório e perigoso. Todos usam máscaras sociais para iludir os outros e participar deste jogo.

O roteiro é muito bem escrito, rodeado por um humo negro, afiado e violento, com belas atuações, situações inesperadas, fotografias e movimentos de câmera lindos e inusitados, além de uma montagem sensacional, que às vezes nos leva de uma cena a outra com contra-planos ousados. A Direção de Arte também arrebenta. Impecável.

O filme é no melhor estilo film noir, que tem como característica alguns elementos essenciais como a morte, o dinheiro, as armas, a femme fatale, a estética privilegiando cores escuras e ambientes de pouca luz.


O próximo será "Barton Fink - Delírios de Hollywood"


Sinopse
Os criadores de "Fargo", "E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?" e "Intolerable Cruelty" nos brindam com uma visão complexa e gráfica da era dos gagsters nos EUA. Ambientado nos dias desenfreados da Lei Seca, Ajuste Final exibe uma fascinante galeria de perigosos assassinos e capangas Leo (Albert Finney) é um benevolente gangster irlandês e o líder político que comanda o lado leste da cidade com a ajuda do anti-herói Tom (Gabriel Byrne), seu homem de confiança e conselheiro. Mas seu controle da cidade é desafiado por um ganancioso subchefe italiano Johnny Casper (Jon Polito) e seu impiedoso capanga Eddie Dane (J.E.Freeman). Apesar de que Tom tenta mantér a paz, ele se desentende com Leo por causa de uma garota e se vê profundamente envolvido na guerra entre as gangues. Ajuste Final possui ação vibrante, uma fotografia maravilhosa e tiradas de humor Negro. Seu enredo intenso e cheio de surpresas nos leva a um cenário onde nada é bem o que parece ser.