quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Flores sem primavera - Amor e outros desastres

Quero um dia amar alguém que me permita vesti-lo pelo avesso, calçar pés trocados, invertê-lo para me apossar...

 Alguém que demarque com a cerca viva dos seus próprios braços o seu território e me mostre em suas pernas o marco das minhas fronteiras...

 ...Fazer da minha língua oficial a sua, e meu exército, os seus dentes...

 ...Que me permita enxergar pelas janelas embaçadas dos seus olhos e fazer dos seus ouvidos meus radares sonoros...

 Ai então, minha primavera desabrochará com o cheiro do seu corpo e colherei flores sobre seus lábios...

domingo, 28 de setembro de 2008

Por não estarem distraídos...


Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.

Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.

Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.

Como eles admiravam estarem juntos!

Até que tudo se transformou em não.

Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles.

Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso.

Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.

Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.

Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.



Texto: Clarice Lispector in "Para não esquecer"

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Febre Confessional...


Não há como fugir de fatos.

Cada coisa é uma palavra, cada palavra, uma coisa. Quando não se tem, inventa-se.

Não é fácil escrever. Escrever é difícil, duro como diamante, ainda mais quando voam faíscas e lascas como uma porta de vidro estilhaçada por explosão.

Ahhh, que medo de começar....

De uma coisa tenho certeza, vou mexer com coisa delicada, abandonar sentimentos antigos já confortáveis...

Agora não é confortável, isso não é confortável, mas há que se fazer...

Para falar da “coisa” tenho que chorar durante dias, adquirir olheiras escuras, só cochilar de pura exaustão, andar angustiada como que perdida pelo próprio quarto e deixar que os sentimentos transbordem em doses homeopáticas, assim, fugindo discretamente de um esconderijo, tudo isso para me pôr no nível de quem não merece...

A ação desta história terá como resultado minha transfiguração e uma tentativa de materialização. Entendam como quiser.

É preciso evitar que a tendência analista que acaba por reduzir o mundo, os sentimentos e os atos (e fatos), a míseros elementos me atinja. Eu não sou assim, reação.

Reação. Reação.

O cinzento das palavras ditas não vai embaçar meus vinte e dois anos e sumir sem “reação”.

Olhando pela janela foi que pensei naquela coisa terrível...

Silêncio. Lá fora a brisa indiferente...

Em pouco tempo vai começar a chover.

sábado, 23 de agosto de 2008

Quem você quer ser?


“Quero ser John Malkovich” é o primeiro trabalho de Charlie Kaufman, em que conta a história de um manipulador de marionetes desempregado, Craig Schwartz (John Cussack), casado com uma Lotte (Cameron Diaz), que possui vários animais de estimação, desde chipanzés até peixinhos no aquário...

O filme começa com uma teatral e encantadora apresentação de marionetes que interpretam com dramaticidade e profundidade a angustia do ser humano...

(Pra mim, esse momento, é quase uma inversão de Dog Ville...

O irreal é tão real quanto o real e vice-versa...)

Craig, não encontrando perspectivas em sua profissão, resolve responder a um anúncio de jornal e consegue emprego como arquivista em uma empresa que fica no andar 7 e ½ de um edifício...

...é quando um de seus documentos cai atrás de um arquivo que ele descobre uma portinha secreta que leva as pessoas a (serem) John Malkovich...

Logo ele e colega de trabalho decidem fazer do túnel um lugar rentável e passam a cobrar ingressos para que as pessoas possam, por 15 minutos, ver a vida pelos olhos de Malkovich. É claro que não demora até que ele tenha a idéia de controlar o astro, assim como fazia com suas marionetes...

...e daí pra frente ainda tem muuuita água pra rolar...

Tramas instigantes, desafiadoras, absolutamente emocionantes (sem ser piegas)...

Tramas que falam da realidade, o quanto de nossa percepção é afetada por ela e quanto de nossa percepção a afeta...

Genial sem ser pretensioso...

... esse é Charlie Kaufman, roteirista de “Quero ser John Malkovich”, “Adaptação” e “Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembraças”...

Habilidoso, Kaufman torna um fato corriqueiro em uma mirabolante trama de autoconhecimento nada trivial...

Há quem diga que seus filmes são “soltos” e “desconexos” (li por ai...), mas, pra mim, foram/são incríveis quebra-cabeças que têm as peças escancaradas pra quem se dispuser a montar (falando em montagem, ela também é muuuuuuuito foda!)...

Sabem aqueles joguinhos de se acompanhar vidrado? Então...

Kaufman consegue escrever filmes inteligentíssimos e tem a sorte de montar equipes que fazem o trabalho ser completo, em todos os sentidos, seja na trama, direção, interpretação, trilha sonora, direção de arte e fotografia...

Provoca lágrimas, risos, perturbações e identificações em cada um de nós...

Pra quem já viu sabe do que estou falando, pra quem não viu e se empolgou com esse e ainda não viu “Adaptação”, corra, pois Kaufman extrapola os limites da imaginação com uma metalinguagem delirante, imperdível...

Sua criatividade não tem limites...

E que seja Eterno o Brilho dessa Mente!

“Quero Ser John Malkovich” e “Adaptação” foram dirigidos pelo mesmo diretor, Spike Jonze. Já “Brilho Eterno (...)” foi dirigido por Michel Gondry.

Ahhhh! Fica a perguntinha: “Quem você gostaria de ser?”

"Dentre muitos, eu queria ser um pouquinho de Kaufman...rs”






Ficha Técnica

Título Original: Being John Malkovich
Site Oficial: www.beingjohnmalkovich.com
Direção: Spike Jonze
Roteiro: Charlie Kaufman




quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O tempo e as asas...



Méééééu Déééééus, o tempo voooooa!

Já já venho com novidades...têm coisas, mas tão todas misturadas...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Constatações


Às vezes choro me olhando no espelho, às vezes como sem fome...

Às vezes ando de pés descalços, às vezes leio um livro só até a metade...

Às vezes tenho orgulho dos meus pecados, às vezes duvido dos outros...

Às vezes me sinto parecida com a minha mãe...

Às vezes estranho meu próprio nome...

Às vezes vou passear debaixo de árvores para ver se chove flores...

Não tenho plantas em casa porque esqueceria de regar...

Não deixo de comprar flores porque acho que mereço...

Não minto porque não gostaria que mentissem pra mim e porque acho que não vale a pena prorrogar uma decepção.

Nunca quebrei nada que precisasse de gesso...

Nunca andei de navio...

Nunca capotei com o carro...

Nunca deixei de dizer o que sentia por medo...

Nunca viajei de caminhão...

Quando eu fico triste fico muda...

Quando estou alegre pareço que pulo mesmo não tirando os pés do chão...

Quando sinto saudades fico angustiada e com vontade de chorar...

Quando gritam comigo sinto raiva do outro por me sentir insignificante...

Quando eu falo sacanagem fico envergonhada, mas acho graça...

Quando eu gargalho não tenho vontade de parar...

Quando estou feliz as coisas bonitas estão em maior número (mesmo que seja uma só)...

Quando escrevo, transbordo, quando leio, mergulho...

Quando me surpreendem muito, também me roubam as palavras...

terça-feira, 17 de junho de 2008

E se fosse verdade?!


Imaginem que todos os telefones da cidade estão enguiçados...

Imaginem que eu fiz uma ligação e deu sinal de ocupado...

Imaginem que, de repente, o sinal de ocupado começou a soar em chamada, mas que ninguém atendeu, e que em vez de atendido o número discado ouvi uma linha cruzada...

Imaginem que por curiosidade simples, passo a ouvir a conversa entre um homem e uma mulher, e que no final da conversa ouvi uma frase nitidamente...

Imaginem que a frase foi “Eu amo você”, o que foi verdade...

Imaginem então que me senti amada, porque a frase também foi pra mim...

Será verdade?

Siiiiiim, a frase era pra mim...

Agora não imaginem mais, apenas digam "siiiiiim" ao mundo...

Siiiiiiiiiiiim!!!!

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Férias...



Nããão minha gente, o blog não estava abandonado...
Só tirei férias e esqueci de avisar....

Vocês devem ter percebido que a freqüência das postagens diminuiu muito...
Bom, acho que por enquanto vai ser assim...
To meio perdida e sem foco, mas continuo por aqui!!!

Se quiserem mandar coisas pra postagem e discussão, a casa é de vcs!

Vou no meu tempo, tudo bem?!

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Sem Essa Aranha


Ok, eu assumo. Ando em falta com o blog.

Na verdade, ultimamente, não sei bem o que postar, para o que direcionar...há vários filmes e livros sobre os quais gostaria de estar comentando, ao mesmo tempo que a minha necessidade de escrever grita. Talvez esteja poupando vocês da coisa errada...

Livros e filmes são muito mais interessantes do que qualquer delito imaginário cometido por mim, seja em relação a sociedade, a alegria, dores, amores e sabores...
Além do mais, a possibilidade de troca é maior, já que ninguém se atreve a cometer um delitinho sequer, nem que anonimamente...

("suas informações seriam mantidas no mais absoluto sigilo", rs)

Vamos lá então. Dentre os muuuitos filmes que já tinha listado em um papelzinho para comentar aqui, vou começar pelo último que assisti: "Sem Essa Aranha", dirigido por Rogério Sganzerla em 1970, uma cópia gravada do Canal Brasil...
(E, como sempre, mais uma vez, Canal Brasil salva a nação, apesar de cortar/editar uma cena de masturbação com uma garrafa de vidro)

Rogério Sganzerla. Cinema Marginal. Uma experiência.

Isso mesmo, ex-pe-ri-ên-cia.
Uma experiência difícil, corpórea. Parecia que via o filme com o corpo, com os músculos, lutando com meus frágeis neurônios para "entender" o que estava se passando...

As experiências acontecem num fluxo caótico.
Era muito pra minha cabecinha...

Imaginem...
De um lado, a busca forte por "sentidos" a que fomos condicionados mantinha meus olhos e minha mente excitados e ligados ao filme...
De outro lado, o quebra-cabeça abstrato e quase experimental que Sganzerla criou vinha para desmontar toda essa estrutura viciada que nos foi estipulada, criando uma contradição que me fazia indagar o porquê de estar tentando entender algo que, não necessariamente, precisava ser entendido...

Eu queria sentir e só.
Sentir a experiência que Sganzerla propôs...

Mas minha consciência não permitia...
O esforço intelectual me levou a inúmeras "crises de resistência"... (rsrs, ééé...quando não se tem o QI muito elevado, a mente brilhante e culturalmente ativa como muitos, a capacidade de dominar a consciência, a gente padece...)

Sabem aquelas pessoas que dormem em sessões de terapia?
Então, me senti igualzinho...rs
Ainda bem que não estava sozinha e, antes mesmo de cair no sono, era dispertada, mas tava difícil...(tb não vou dizer que não tive que voltar nenhuma cena, porque mentiria...)

A câmera é assumidamente tosca (aquela, sempre bem-vinda, ousadia da câmera na mão), o "boom" aparece em várias cenas, os planos-seqüências são longos e a interpretação dos atores parece que sai do útero, é contra tudo o que os teóricos já haviam definido...
...os personagens são desprovidos de construções psicológicas ou sociológicas, anti-naturalista e anti-realista, vivem o instante...

O filme exala brasilidade...
Uma honestidade que de tão verdadeira, tão próxima, assusta...
Um filme clandestino, um filme-grito, um filme-vômito, um filme urgente, um filme livre!!!

Acho que ninguém conseguiria assistir "Sem Essa Aranha" e não ficar intrigado com o filme, com as imagens, ou mesmo pensando em alguma possível mensagem subliminar que o diretor queria passar...

É um tipo de experiência perigosa para a normalidade...

...dessas que deixam as pessoas catatônicas...
...visceral demais para os que não se permitem...

"Números musicais com Moreira da Silva e Luiz Gonzaga, stripteases, um pacto com o demônio, artistas de circo, masturbação e morte completam essa eletrizante chanchada psicodélica, apresentada em quinze planos-seqüência de tirar o fôlego e enquadrados com estilo pela câmera-na-mão de Edson Santos." (Remier Lion)

É o grande sonho de fazer cinema, de viver cinema!!!



Algumas informações sobre o filme:

Sem Essa Aranha
(Brasil, 1970, P&B)
Gênero: Comédia
Duração: 102 min.
Produtora(s): Belair Filmes
Diretor/Roteirista: Rogério Sganzerla
Elenco: Aparecida, Moreira da Silva, Maria Gladys, Luiz Gonzaga, Helena Ignez, Jorge Loredo

"Em quinze planos-sequência delirantes, Sem Essa, Aranha, filmado pouco depois, traz o fim do mundo na pele de um pilantra; o caos de um país que está fora da página. É Jorge Loredo que faz Zé Bonitinho que faz Aranha, um cara de pau favelado casado com dezenas de mulheres e responsável pela alimentação de não sei quantas mil crianças. Três esposas são destacadas no filme: a raivosa personagem de Helena Ignez, a Aparecida domesticada e religiosa e uma insuportável Maria Gladys, que passa o filme inteiro berrando: "eu tô com fome!" e "ai que dor de barriga!".
É Sympathy For The Devil à moda carioca; o pecado exagerado via câmera na mão nos happenings tão profanos quanto psicodélicos.
Há três seqüências memoráveis. Um cabaré de quinta categoria, movido à música emocionadamente brega. Enquanto Helena Ignez força o vômito (depois ela aparece xingando todo o sistema solar!), Zé Bonitinho que faz Aranha que faz Jorge Loredo revela um strip-tease e proclama: "quando deus me fez, estava com complexo de superioridade".
Pouco depois, em um alegórico ensaio (?) de um grupo de circo, aparece tudo quanto é tipo de gente. Um homem cuspindo fogo, mulheres à beira de um colapso nervoso, um travesti negão encarnando o Exu e uma moça que morre engasgada com um sanduíche. Com o Brasil fora da página, pecar em dobro não é problema algum.
O ápice fica por conta de Aranha (Jorge Loredo que faz Zé Bonitinho) descendo o morro para jogar no bicho. Ele é cercado e desmascarado pelos favelados e por suas mulheres, que continuam berrando desesperadamente. Tudo acaba com Cristo sendo pisado ao som de forró. Há seis mil anos que era preciso aparecer um filme assim."

(Texto retirado de "Revista Virtual Freakium")

sábado, 17 de maio de 2008

O Tempo...


Ele apareceu quando ainda não tinha muita intimidade...

O menino que tem um olho azul, outro verde se apresentou num dia de sol peneirado pelo céu pedrento e espelhado de água, prometendo me contar um segredo que faria de viver e amar um jogo menos perigoso pra mim...

Talvez vocês ainda não saibam, mas o Tempo guarda mil segredos...
E só guarda, por que sabe das coisas...

...sabe que ninguém se esconde atrás de máscaras pra sempre...
...sabe que as pessoas mentem um monte, mentem pros outros, pra si próprias, protegendo-se de amar...
...sabe que as pessoas privam-se da verdade, revestem-se de presunção, ostentação, mentindo e mentindo muito, mentiras horrorosas...

Naquele dia, olhei para o céu, os raios de luz tentaram romper a grade de nuvens...
Foi quando cheguei à conclusão de que a verdade do Menino Tempo é como a luz solar no teto pedrento e espelhado de água, prevalece...

Meu amigo, esse menino levado e paciente, estava com bermuda azul estampada com nuvens brancas...
...o Tempo...

Demos umas risadas...
(ele é debochado, sabiam?)

Contou-me de umas pessoas que estavam por passar, falou do futuro, contou das gentes que não sabem amar, ficou triste-amargo-irônico (tudojunto!)...

Alertou mais uma vez do medo, do meu, dos outros...
Falou sobre medo, das coisas espantosas que ele faz com homens e mulheres...

Mudou a voz para um tom grave, orgulhoso, falou que era meu amigo e bradou:
- “Você é livre. Vai incomodar quem não sabe muito de si, quem não quer saber, porque em geral, os outros são doentinhos, tadinhos...
Mas você é livre e quem souber beber da sua liberdade vai lhe amar.”

Eu olhei pra ele com os olhos avermelhados de maresia, lacrimejados por saber em mim a liberdade que desconfiava, e meio abestada com aquilo tudo...

- “Tenha paciência, hoje você ainda não sabe, mas eu vou lhe mostrar...
Ainda há Tempo, né?”

Tempo...
Caímos na gargalhada...


sábado, 10 de maio de 2008

Recaída...


Tenho me sentido muito só...

Sinto a solidão palpável quando estou triste, querendo alguma coisa que me ocupe o tempo...

...que cesse a esperança de alguma coisa que não sei se virá...

...que acabe com a espera solitária, da busca da dormência, do torpor, da fuga...

É o desespero silencioso de quem um dia soube sentir mais intensamente a vida do que hoje, achando que isso abafa a dor...

Sei que não é bem assim que as coisas funcionam...

Só queria um pouco de carinho...

O encontro com alguém cúmplice, que compactua com certas "agravâncias" da vida e compartilha alguns não-entenderes, determinantes na sua personalidade, pode mudar tudo...

Esse elo quase físico com o outro nos leva a uma condição de viver mais sublime, talvez até consiga diminuir a solidão e a tristeza, ainda que apenas pela duração do encontro...

Mas sempre que isso acontece só consigo me isolar mais e mais...

Acho que não gosto que as pessoas me vejam triste, com aquela angústia vazia mesmo quando estão por perto...

Ou vai ver não possuo essa cumplicidade com ninguém, já que quando doa-se ao outro uma parte de si, nada mais justo do que receber um afago, uma sacudida, um contraponto...

Porém, nem sempre é assim...

Aquela história de que uma hora a plantinha morre se não for regada, cuidada...

O medo dos outros me entristece mais ainda...

De certa forma, a ausência por estes dias se explica...

E muitas outras coisas também...

sexta-feira, 9 de maio de 2008

sábado, 3 de maio de 2008

"Com clima de tristeza e santidade (...) linda, profunda, estranha, perigosa..."


"29.12.1970


Hildinha, a carta para você já estava escrita, mas aconteceu agora de noite um negócio tão genial que vou escrever mais um pouco. Depois que escrevi para você fui ler o jornal de hoje: havia uma notícia dizendo que Clarice Lispector estaria autografando seus livros numa televisão, à noite. Jantei e saí ventando. Cheguei lá timidíssimo, lógico. Vi uma mulher linda e estranhíssima num canto, toda de preto, com um clima de tristeza e santidade ao mesmo tempo, absolutamente incrível. Era ela. Me aproximei, dei os livros para ela autografar e entreguei o meu Inventário. Ia saindo quando um dos escritores vagamente bichona que paparicava em torno dela inventou de me conhecer e apresentar. Ela sorriu novamente e eu fiquei por ali olhando. De repente fiquei supernervoso e sai para o corredor.

Ia indo embora quando (veja que GLÓRIA) ela saiu na porta e me chamou:

- "Fica comigo."

Fiquei. Conversamos um pouco. De repente ela me olhou e disse que me achava muito bonito, parecido com Cristo. Tive 33 orgasmos consecutivos. Depois falamos sobre Nélida (que está nos States) e você. Falei que havia recebido teu livro hoje, e ela disse que tinha muita vontade de ler, porque a Nélida havia falado entusiasticamente sobre Lázaro. Aí, como eu tinha aquele outro exemplar que você me mandou na bolsa, resolvi dar a ela. Disse que vai ler com carinho. Por fim me deu o endereço e telefone dela no Rio, pedindo que eu a procurasse agora quando for.

Saí de lá meio bobo com tudo, ainda estou numa espécie de transe, acho que nem vou conseguir dormir. Ela é demais estranha. Sua mão direita está toda queimada, ficaram apenas dois pedaços do médio e do indicador, os outros não têm unhas. Uma coisa dolorosa. Tem manchas de queimadura por todo o corpo, menos no rosto, onde fez plástica. Perdeu todo o cabelo no incêndio: usa uma peruca de um loiro escuro.

Ela é exatamente como os seus livros: transmite uma sensação estranha, de uma sabedoria e uma amargura impressionantes. É lenta e quase não fala. Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. Muita gente deve achá-la antipaticíssima, mas eu achei linda, profunda, estranha, perigosa. É impossível sentir-se à vontade perto dela, não porque sua presença seja desagradável, mas porque a gente pressente que ela está sempre sabendo exatamente o que se passa ao seu redor. Talvez eu esteja fantasiando, sei lá. Mas a impressão foi fortíssima, nunca ninguém tinha me perturbado tanto. Acho que mesmo que ela não fosse Clarice Lispector eu sentiria a mesma coisa.

Por incrível que pareça, voltei de lá com febre e taquicardia. Vê que estranho. Sinto que as coisas vão mudar radicalmente para mim - teu livro e Clarice Lispector num mesmo dia são, fora de dúvida, um presságio. Fico por aqui, já é muito tarde.

Um grande beijo do teu Caio"


Carta de Caio Fernando Abreu à Hilda Hist.

Nós temos esta sentença irrevogável: viver...

Mesmo que, perto de Clarice, pareça ser aos cadinhos...





Obs: se alguém quiser publicar seus Delitos Imaginários na nova sessão "Crime Putativo" é só mandar para mim por email...

domingo, 27 de abril de 2008

Amor e outros desastres...


Triste mesmo é quando já foi diferente...

Pouco, quase nada.
Nem preciso repetir...

Tão pouco e tão muito que faz um vão por onde quase nada passa...

Mas o quase é o que basta à minha esperança, triste e tosca, em que vivo resignada, abandonada e esquecida...

Eu não sabia que existia, podia ser só um sonho romântico...
Mas não...

Triste é quando a gente viveu e não vive mais, algo que nos foi dado a conhecer e não a esquecer...
Parece ingrato, mimado e leviano dizer isso...

Mas triste é ter saudade, do que possa ser...

E ter vergonha de sentir e dizer, pra mim, é ainda pior...


"Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor."(Vladimir Maiakovski)




(Mais uma fotografia da Paulinha Huven – O espaço do que não está)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Legendado...



- “Vamos ao cinema?”

Depois de relutar, você diria:

- “Vamos lá pra casa, compramos pipoca e vemos um filme embaixo do edredon. Um edredon novo que comprei, bem grande, que faz a gente parecer duas crianças embaixo dele. Isso! Vamos voltar a ser crianças e fazer bobagens embaixo do edredon? Melhor ainda, vamos virar adultos sacanas e fazer bobagens ainda maior?”

- “Huummm...
O que você viu em mim?”

- "Ah", você diria, "eu vi alguma coisa que não sei bem o que é, que me prendeu e não consigo me livrar. E você?”

Aí eu explicaria em detalhes como me apaixonei pela consistência da sua pele, pelas dobrinhas das suas mãos, pela suavidade do seu ombro, pelos pelinhos do seu peito que se enrodilham nos meus dedos, por aquela curvinha que adoro apertar e faz você rir, pelo jeito que você sorri e aperta os olhinhos, e como isso supera todas as brigas, queixumes e discordâncias, porque você sempre soube quem eu era, antes mesmo da gente se conhecer...

Então você passaria de leve o dedo no meu rosto, pensando alguma coisa que não iria dizer e eu nunca saberei o que é...


(...)




...




(Fotografia "Two nudes with swallows" - Dois nus com andorinhas - de Evgen Bavcar)

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Sobre meninos e meninas...


Solto um riso no meio da tarde...

É porque ouvi sua voz infestada de sonhos, risonha e incontida, sussurrando más intenções em meus ouvidos...

Rompantes de beijos incansáveis cortando frases, bocas urgentes na aflição dos pecados...
Pernas que se enrodilham desacertadas...
Sua força invade meus avessos e emudece meus dizeres...

Mãos perseguem-se, abatem-se, numa caçada incansável, e acabam por se devorar...

Seu nome me escapa por entre os dentes e seus olhos brilham ao encontrarem os meus...
Envergonhada, disfarço olhando pro lado...

É quando solta aquele sorriso improvável que só eu entendo, porque sei da sua censura de auto-felicidade...

É nesse mesmo instante que me compadeço da sua fome encantada de mundo e me sinto viva, impregnada...
...encho-me de coragem e volto a lhe olhar...

Encontro-me inteira dentro do seu peito...
Dessa forma é que me descubro incompleta, e, por isso, feliz...

Até que o cansaço abençoado da embriaguez dos nossos corpos se torna mais forte que tudo e nos faz enternecer em um momento que, mesmo adormecidos, evitam se distanciar...

Assim, desvendo o maior segredo do mundo: aquele homem, que por dentro tem menino, me faz mulher fora e me coloca menina dentro...




(Fotografia: "Só abro meu corpo...por amor" - Marco Lima)

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Obrigada!

... "...estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço." ...


Não sei bem por que, a quê, ou a quem.... só sei que me achei contente hoje, como a muito tempo não me via, e tive vontade de me declarar feliz...

Não sei se por sentir o calor no corpo do sol escaldante...

Não sei se pelo banho torrencial de chuva que tomei (dessas de verão...dessas de lavar a alma e fazer escorregar carrapato), quando estava em cima do telhado (olha o perigo! rs), roubando limões da casa vizinha...

Ou por me acreditar mais próxima de mim mesma a cada dia que passa....

Coisas egoístas do tipo: estar viva, ter vários cantinhos pra fugir, minha família, meus amigos... Ser amada? (nem que pelos amigos e familiares...)

Gostar do que faço, ler, escrever...
Viver coisas que vivi, simples, ínfimas, intensas, explosivas...

Desde lançar pedras ao rio....

Sentar debaixo da árvore e ver na flor o corpo despido da roseira...

Gargalhar e não segurar a pasta de dente....

Mergulhar em Copabacana e fazer acrobacias, à meia noite, junto da minha fiel companheira e um árabe maluco, recrutado no caminho...

Fazer cafuné na minha "filha" e dormir tudojunto porque ninguém quer se separar...

Voar como se fosse a coisa mais corriqueira e depois despencar desengonçada, como quem cai da cadeira...

Até alcançar cega, como tantas vezes, as mãos do trapezista, sem rede, nem nada...
E também, como tantas vezes, me machucar...
Mas é cair e levantar...

Me camuflar nas palavras....
Escrever nas últimas páginas, nos cantinhos, nas bordas, no arame, embaixo dos pés....

Acho que estou começando a entender aquele negócio da gente levar a vida inteira pra se tornar a gente mesmo...

Bom ter vocês por perto e saber que enquanto me decomponho, me multiplico também...

É isso, acho que no final, só queria agradecer...
Então....
Muito Obrigada!!!

sábado, 12 de abril de 2008

Fragmentos...




Ela - Quando tu vieres pra cá, podes ficar lá em casa.

Ele - Não precisa, não quero incomodar.

Ela- Huh, tá com medo é?

Ele - Tenho medo não, fí­a, o que um não quer dois não fazem. Só não quero que me convides para ficar aí por pura educação.

Ela - Tu sabes que eu não tenho educação.


(Cafeína - Calexico)

terça-feira, 8 de abril de 2008

Acossado


Bom, faz tempo que estou pra postar sobre o filme “Acossado” (1959), de Jean-Luc Godard, seu filme de estréia...

Acho que a demora foi porque fiquei pensando demais sobre o filme e no final já não sabia mais o que dizer...
...às vezes acontece o inverso do que “o normal”: as idéias em vez de se multiplicarem, sintetizam-se....
...e é mais ou menos isso...

O “Acossado” é um filme que deu as costas para as regras de seu tempo, por isso, talvez, tenha conseguido expressão própria e sido um marco no Cinema...
...além, é claro, de colocar em xeque o feminismo (com uma das mais delicadas e lindas atrizes da época, a meu ver...)

“Acossado” tem ritmo próprio, “descontínuo” (no sentido de ser autônomo)...

Godard expõe idéias em vez de histórias, ai está o grande X da questão!!!

A censura brasileira o tinha como o pior dos cineastas da Nouvelle Vague, enquanto Glauber Rocha o venerava...
Li que o chamava de ''revolução permanente''... rs

Humberto Pereira da Silva, professor de filosofia da USJT, disse sobre o filme em uma artigo sobre Godard: “Um Godard, um Peter Greenaway, um Andy Wahrol, um Edward Hopper não são datados justamente porque inquietam, geram polêmicas e controvérsias acerca dos limites da arte numa sociedade de consumo e incompreensão de críticos afeitos aos clichês do momento. Desde as vanguardas do início do século passado, o valor de uma obra de arte está também naquilo que Celso Favaretto chama de "acontecimento". E essa lição não devia passar despercebida pelos críticos atuais do autor de "Acossado".”

SINOPSE (a melhorzinha que achei) Homem rouba um carro e mata um policial antes de seguir para Paris. Lá, ele se esconde na casa de uma mulher, que tem o desejo de ser engravidada por ele. Quando ele perde a consciência e comete alguns pequenos delitos, dá também a brecha para os policiais o acharem e darem início a sua perseguição final.


Outros cartazes:








sexta-feira, 4 de abril de 2008

De ponta...



Porque existe essa coisa estranha, imbecil e ansiosa que fica colocando essa idéia boba na nossa cabeça de que a gente pode lugar e brigar e insistir por tudo...

...e que só falta mais um pouquinho, e que não vale desistir agora e deixar tudo se arruinar...

...e quando isso acontece, eu pulso forte e me torno provocativa de tanto gotejar, porque acho que não vou dar conta...

...mas ao mesmo tempo, vejo que tudo, nada mais é do quem um tempo desesperado e incerto, que vai passar...

...e ai, me despertando, volto a sentir o cheiro da brotação que ainda nem subiu na terra e o despejo de palavras benditas que um dia ouvi e guardei...
....coisas que por instantes me re-inventam os prumos, os rumos e as vertentes que me fundem em sede e insanidade...

...e o vento no rosto e os olhos ardidos, que me lembram do mar...
...um mar que trago nos olhos e na boca, salitre, sol, ardência e frescor...

...remeto ao oceano que faço em mim....
...me despedaçando ao vão, sem infinito, sem dimensão e sem razão...

...porque a felicidade pode estar no prefácio, no contrário ou no extremo das coisas, depende de quem vê....
...quando ela não está ali, na coisa em si...


(não sei de quem é a fotografia...peguei na net, em um site suRper legal, mas sem créditos! Se alguém souber...)

terça-feira, 1 de abril de 2008

Era uma vez...

Faz de conta que eu sou uma criatura forte...

Faz de conta que ao tomar uma resolução eu nunca mude de idéia...

Faz de conta que eu escreva algum dia coisas que desnudem um pouco a alma humana, ou pelo menos a minha...

Faz de conta que eu falando sorrindo sem perceber...

Faz de conta que um dia ganhei asas, e, nesse dia, aprendi a voar...

Faz de conta que estou sempre pronta pro que der e vier, que a vida é agora, e que o ontem já passou...

Faz de conta que sou ríspida, distante e alheia com quem amo, e que, mesmo assim, eles são felizes, bem felizes, faço de conta, então, que os odeio...

Faz de conta que eu entendo o que as pessoas cantam em inglês e que não repito só o finalzinho da frase...

Faz de conta que eu tenho menos defeitos do que realmente tenho e que nunca minto...
Faz de conta que entre meus defeitos existem algumas qualidades...

Faz de conta que eu sei encher o mundo com palavras carinhosas e que sei inventar carinho...
Faz de conta que eu não me arrepio com um beijinho na nuca...

Faz de conta que sou atriz...

Faz de conta que basta uma flor para alegrar a minha vida...

Faz de conta que eu me importo com o meu voto desperdiçado e que sou tão engajada politicamente como meu avô era nos tempos militares....

Faz de conta que ontem teve pão de queijo, que a geladeira e a dispensa estão lotada e que guardo temperos em tubinhos como os alquimistas...
Faz de conta que eu adooooro cozinhar...

Faz de conta que eu não guardo rancor, nem mágoa, nem tristeza....
Faz de conta que sou uma pessoa madura, já estou em outra dimensão, um nível acima...

Faz de conta que eu não lembro de nada de ruim do que ficou no passado e que não sofro com os desprazeres do presente...

Faz de conta que eu entendo os homens, com toda a sua maturidade e vontade de não ter obrigação nenhuma, e que isso não se contradiz...

Faz de conta que não entristeço e amiúdo diante das suas mãos e só de olhá-las, caibo na concha que elas se recusam a fazer...

Faz de conta que suas mãos poderiam me juntar minúscula, enroscada em delicadeza e afeição, que poderiam me envolver de ternura, dócil e quieta, e que bastaria me encontrar entre o espaço morno entre seus dedos para me achar de novo...

Faz de conta que você gosta de mim da mesma forma que eu, de você...

Faz de conta que eu não me desfaço em lágrimas ao perceber que muita coisa disso não é “faz de conta”...

Faz de conta que hoje não é 1º abril...

sábado, 29 de março de 2008

Com muito prazer e dor

Chega um dia na vida que é assim, a gente cansa da vida de diabético em confeitaria e resolve evadir...
..conscientemente, claro, e com o peito dolorido de coragem e dor...

Mas decidi!!!

Decidi por uma vida onde tudo vai ser poesia, vai ser prosa...
Tudo vai ter sentido, vai ter cor...
Vai ter todas as cores do mundo...
Tudo vai ter graça, vai ter raça, e, por que não, como já dizia o poeta, vai ter fé...

Sim, eu sei. Não é assim que costumo escrever, mas é que hoje fui acometida por uma vontade brutal de revelar e agradecer...

Vai ver é porque as minhas mãos e meus lábios, que já não tem mais o pudor de antes, resolveram libertar os sentimentos e palavras há muito engasgadas em minhas entranhas e foram me buscar lá no quinto dos infernos, onde me encontraram desesperada como criança perdida...

...resolveram libertar todas aquelas palavras que saciam a minha vontade de lutar por mim, pra poder ser o que sempre fui e quem pretendo ser: eu mesma....

Nada de grandioso, ou extraordinário.

Muito prazer.
Doa a quem doer...

(em off: rimou! rs, será que estou voltando a velha forma?)


Fotografia de Klaus Mitteldorf

quarta-feira, 26 de março de 2008

Coisas, quases e talvezes...


Queria escrever uma coisa bonita, mágica, doida, feliz, uma coisa verde quase grama...

Queria escrever uma coisa quase-pétala, meio rosa, meio vermelha, meio branca e amarela também....

...uma coisa que fizesse sorrir os olhos, desse fome encantada e deslumbre para procurar mistérios...

...uma coisa que desse certezas e forças e um caminho que chegasse até a mim, (mas sem “quases” ou “talvezes”, como a gente vê nas histórias que contam por ai, essas coisas que um dia podem acontecer....)

Mas a vida é mais doida do que a coisa que eu queria escrever, porque ela desinventa tudo com uma crueldade amarga demais...

E quando vejo, o que tenho a dizer é imbecil e inquieto que nem vale a pena...

Porque tudo é tanto e tão muito, que me canso e murcho, me apequeno, encolho e abraço as pernas, porque assim me sinto mais perto de mim...

E é ai que quase desapareço de tanta tristeza e desesperança...

Depois acho distração no mundo...

Brigo com o vento brincando de lutar, faço poesia malfeita, encho um copo de água pra ver se me preencho...

Mas eu sei que assim não adianta tentar...

Então é ai que me dá vontade de escrever uma coisa bonita...

Encho uma garrafa com palavras e imagens guardadas, mexo bem, volto os olhos pra janela que se abre para o céu, que hoje nem azul está, e não me canso de esperar não sei bem o quê...

E o que eu tinha pra dizer foi esquecido.




(Fotografia de Loretta Lux)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Dessa vez, "pérolas"...


Chove em mim torrencialmente, só agora, depois da vertigem, estou começando a aprender...
Desfio algumas pérolas em contas de lágrimas...alivia....

De algum modo meu céu tenta lavar os pastos ocres, verdes e cinzas por que passei...

Não sei o que aconteceu que o que há de triste em mim, resolveu, há pouco, tudo de uma vez, como um tufão, verter em meus olhos umas lágrimas meio doce, junto transborda um tanto de alma...

Estou sem estrela nos olhos, de pés descalços, está tudo encharcado, alagado...
Estou sem menina dentro, como diria Clarice...

Quero chamar a menina pra brincar na chuva, pra sair e pisar a terra e se melecar inteira de lama...
...e também pra bagunçar os cabelos e roubar flores...

Espero que apareça....
...mesmo que felina e com tristeza nos olhos, tristeza por virar felina...

...mas a menina dentro quer sair e quer brincar...
...um dia ela aprende a se virar, um dia ela aprende a viver e, quem sabe, a amar...

Para onde será que foi a felicidade que estava em nós?
Deve estar brincando de esconde-esconde com a menina lá de dentro...

Ah, mas quando essa menina aparecer, vou lhe ensinar que isso não se faz...
Não se sai pra passear sem aviso... assim!!!

Desse jeito a gente quase morre do coração...



(Fotografia de André Meier)

sábado, 22 de março de 2008

Sombras de Goya


Sombras de Goya (Goya`s Ghosts. Espanha/ 2006)


Natalie Portman, Javier Bardem, Stellan Skarsgård, Randy Quaid, Balbino Acosta, Wael Al Moubayed, Simón Andreu
Direção: Milos Forman
Drama/ 118 min./ 14 anos


Estava com uma expectativa enorme para assistir “Sombras de Goya”, que teve seu lançamento adiado, tanto aqui como no exterior, acabei, de certa forma, surpreendendo-me com o filme...

Mais do que Goya, o seu protagonista é a Igreja Católica. Uma história contundente em momento histórico de profundas transformações sociais. Retrata mais as incursões sádicas da igreja católica, as absurdas questões religiosas e o tamanho domínio e opressão de uma entidade que tanto matou em nome de Deus, do que propriamente a vida de Goya...

Goya, na verdade, é um elo que une a vida de duas personagens retratadas por ele e que vão se revelando no desenrolar do filme...

Inês, vivida por Natalie Portman, uma linda e rica adolescente; e Lorenzo, interpretado por Javier Bardem, um padre envolvido com a Inquisição Espanhola...

Um vê o retrato do outro em diferentes situações no estúdio de Goya e logo em seguida se encontram: Inês é presa pela Inquisição injustamente e Goya, a pedido da família de Alicia, intervém a Lorenzo para que ele a ajude...

Submetida à tortura, a jovem conhece o horror e a solidão, sem que sua família possa fazer nada a respeito. O fundamentalismo cristão era quem dava as cartas naquela época...

Contudo, Lorenzo, além de não conseguir ajudá-la, ao visitá-la na prisão é dominado por suas próprias tentações...

Quando Inês sai da prisão, onde perdeu sua juventude (quase duas décadas se passaram), encontra sua família chacinada na própria casa e a única pessoa que lhe restou foi Goya, a quem recorre ajuda para que lhe ajude a encontrar a filha que teve na prisão e que tiraram de seus braços...

Maquiagem, figurino e Direção de Arte são excelentes. Conseguem recriar o passado com a precisão e delicadeza que uma super-produção requer.

O filme traz algumas imprecisões históricas, mas não podemos esquecer que o que vemos é uma ficção (mesmo baseado em alguma realidade).

Goya era o artista mais famoso da Espanha. Contratado por reis, burgueses e pela Igreja para registrá-los para a posteridade, levava uma vida de privilégios, mesmo se manifestando contra a Igreja, que o contratava com suas gravuras e pinturas reveladoras do tempos de Inquisição...

No filme, acaba por se tornar um observador, um “voyer”, angustiado pela sua impotência perante os problemas alheios (que inclui amigos próximos), traduzindo em suas telas e gravuras os horrores de seu tempo...

O principal deles é a invasão dos franceses que acaba por abalar a Inquisição e dizimar a Espanha...

Para mim, o título do filme, “Sombras de Goya”, remete muito mais às figuras que permeiam a obra de Goya: vítimas da guerra, vítimas da inquisição, prostitutas, do que qualquer outra coisa...

Goya podia ser reservado na vida, mas foi corajoso na Arte...
Ele sabia que estava deixando um testemunho sobre seu tempo...

Encontrei dos "sites oficiais": este em Inglês e este em Espanhol

Outros cartazes:











Ia colocar a sinopse, mas acabei falando mais do filme do que de qualquer outra coisa, então, acho que não precisa...

Trailer no Youtube
Trailer no Youtube Legendado

segunda-feira, 17 de março de 2008

Ninguém é de ninguém...

É bonito a gente ser feliz...
É bonito ver os outros felizes...

Viver no escuro, às vezes, também não é má idéia não...

Você pode passar a vida inteira sem ter noção das incapacidades, limitações e defeitos e, ainda assim, e especialmente por isso, ser incondicionalmente feliz....

Fácil uma mãe dar a luz e depois abandonar a criatura à própria sorte...
Sem essa de lamber a cria, fazer planos, amamentar...
Elas que aprendam a engatinhar sozinhas, sustentem-se e alcem vôos...
Ou então, que se rastejem, percam-se por aí, seja o que Deus quiser...
Pronto!!! Já estão no mundo, virem-se...

Cada um por si, e eu com isso? Nada. Nem aí.

Mais fácil ainda é olhar para o outro e dizer "a culpa é sua, agora se vira"...
Pronto. Mãos lavadinhas, alma tranqüila, sono bom...

E o mais fácil de todos, o mais fácil do mundo, é hoje conseguir abraçar e sorrir pra você...
Chegar até você com passos seguros, sem temer que o passado, de alguma forma, possa me engolir...

Espera! Tem alguma coisa errada aqui...

Depois de algum tempo você se vai e passa a pertencer a um passado lindo...
É isso?

Não! Definitivamente, não.
Você não pertence a nada, nada pertence a ninguém, você não pertence ao meu passado, porque nunca foi meu, porque ninguém é de ninguém, não é mesmo, não é simples assim? - e os meus sentimentos em relação a você e a recordação que tenho é.... hã...algum tipo de ilusão, só pode ser...

Então tudo bem, eu não quero discutir...
É você quem tem as certezas sobre os atos de viver, quem sabe dos pormenores teóricos daqueles assuntos complicados que só comecei a aprender agora...

Que bom que você sabe quantos de você vivem em você mesmo e quantas deles sabem de si, apesar de ninguém ser imutável...

Que bom que você sabe das coisas. Assim fica tudo tão mais simples....
Sabe onde é o norte, onde é o sul...
A bússola é você!!!

Os outros? Ah, os outros são os outros...

Daí PLOFT!!!! Um belo dia resolvem acender a luz e a gente vê quê...
...pode não ter mais volta...

Porque não faz sentido a gente buscar, buscar, pra nunca encontrar...

E mesmo se passamos anos curando uma ferida que causava dor desumana, daquelas injustas de compartilhar, que a gente guarda pra gente, lambe, tira a casca, e vê ela se abrindo centenas de vezes e deixando a gente desconfiado se vai se romper de novo ou não...

E então a gente se esconde, e esconde a ferida também, pra não permitir que ninguém mais a veja...
Agora, porque Deus é pai, sempre sobra apenas uma cicatriz esbranquiçada...

As cicatrizes são do tamanho da nossa necessidade de lembrar a razão do ferimento...
E olhe que elas sempre vão minorando com o tempo...

Isso, porque é importante a gente lembrar de onde vem, como chegou até aqui, que batalhas travou, e não ser covarde, não de novo...

Porque a gente se reinventa sempre...
Inauguramos nossos olhos cada vez que os abrimos...

O amor não mora só em mim, ou só em você. Mas no encontro...

Naquele encontro sem artimanhas nem manipulações, da conjunção simples e pura de acordar, respirar e sorrir dizendo: “Bom dia”...

Somos um processo...
Somos uma notícia boa que o outro quase não esperava mais....



(Fotografia de Paula Huven, da série "O espaço do que não está")

quinta-feira, 13 de março de 2008

Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres


“Eu já poderia ter você com meu corpo e minha alma. Esperarei nem que sejam anos que você também tenha corpo-alma para amar. Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira.”

Clarice consegue narrar o indizível, os pequenos nadas, sem cair no vazio e na ausência, ela se apresenta nas entrelinhas como fonte de reflexão...

O livro começa com uma vírgula, antes de qualquer palavra, um período aparentemente incompleto, sem "começo”, parecemos “invadir” uma história, sem preparação, nem coordenadas...

Esmiuçando as dúvidas e anseios de Lóri, personagem principal, que pela primeira vez experimenta o amor e o prazer com Ulisses, professor universitário de filosofia com quem mantém um relacionamento, apresenta o “processo”...

...mas Lóri tem medo de perder a própria identidade no "processo"....
O processo, naturalmente, é a sua lenta e solitária aprendizagem, é aprender a amar, a ultrapassar a ausência e o silêncio, construir a nova realidade até chegar ao ato sexual como um amor total, pleno (o que não significa que antes fosse virgem)....

Ulisses e Lóri estão se construindo como sujeitos. As personagens seguem suas trajetórias, mostrando que a existência é construída a partir de escolhas nem sempre conscientes...

Lóri compreende que não deve excluir os acontecimentos simplesmente porque ultrapassam sua compreensão, mas também não quer perder-se na alienação de si mesma, não deseja naufragar no auto-conhecimento....

"Era cruel o que fazia consigo própria: aproveitar que estava em carne viva para se conhecer melhor já que a ferida estava aberta. Mas doía demais se mexer nesse sentido" (pág. 27).

A história de Lóri é feita de retalhos. Ela se desarticula e se faz renascer segundo a medida de suas descobertas. Através de uma relação afetiva, ela se enxerga mulher e tenta abrir as águas do mundo pelo meio, desnudando o medo e deixando fruir a paixão...

Com Lóri, Clarice desnuda as emoções...
...identifica o propósito da vida humana de buscar intensamente o prazer e evitar o sofrimento...

Em Lóri, a descoberta do prazer está no limiar do sofrimento e com o aprendizado vai conseguindo deixar-se inundar pela alegria aos poucos...

“Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos. A solução para esse absurdo que se chama “eu existo”, a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista.” (pág169).

Depois de vários encontros nos quais conversavam sobre a "aprendizagem" de Lóri, Ulisses diz a ela, num dado momento que, a partir daquele momento, não mais a procuraria. Ela está "pronta". Ulisses diz que vai esperar que ela vá procurá-lo, e pede que ela não telefone avisando: "Queria que você, sem uma palavra, apenas viesse".

A entrega finalmente física dos personagens se realiza com êxtase. Para Lóri, a atmosfera era de milagre; Ulisses, estava sofrendo de vida e de amor. Nada termina. O momento anuncia uma nova começo: "ambos estavam pálidos e ambos se acharam belos."

Clarice se insere sabiamente fechando com dois pontos a narrativa que começara com uma vírgula...

Aprender é muito mais do que um processo lógico; é um procedimento com o prazer da vida diante da multiplicidade dos valores humanos, é algo que sempre se renova, contínuo, que se desconhece o fim (como no livro)...

“uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse seu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.”


Tentei colocar o livro para download no sharebee mas não consegui, então disponibilizei no zshare e no badongo, deleitem-se, cometam esse delito...

terça-feira, 11 de março de 2008

Fricção Chocolate - Por Calexico



"Caminhamos ao encontro do amor e do desejo.
Não buscamos lições, nem a amarga filosofia que se exige da grandeza.
Além do sol, dos beijos e dos perfumes selvagens, tudo o mais nos parece fútil."
Albert Camus



"Assim, deitado na cama com a luz apagada, olhando para o teto, distraía-se com as sombras em movimento dos carros que passavam na rua.


De um deles saiu, por alguns segundos breves (mas longos o bastante para que a reconhecesse ) uma música da adolescência. "Seria assim para sempre/Se nos apaixonássemos/Esta noite é para sempre/Me diga que você concorda/Esta noite é para sempre/Abra a porta, você tem a chave".


Numa tontura de vertigem, lembrou de suores que muito escorreram de suas costas ao som de músicas assim, abafadas, molhadas, meladas.Como o suor de quem você deseja tem gosto bom, "o salitre do feromônio" um dia lhe disseram. Que bobagem. Que coisa mais besta lembrar de como é passar a língua por trás de uma orelha e mordiscar de leve o lóbulo, quando a vontade que dá é de morder com força. Não chamam por aí o ato sexual de "comer" à toa. A coisa é essa; comer um chocolate que nunca acaba. Não por fome, mas por desejo.O tic seco do relógio o tirou do transe, marcando uma hora irrelevante da madrugada. Se é madrugada, a hora não importa, pensou.


-Tá acordado?


-Sim.


-Viajando?


-Distraído.


-É bom.


-É?-...


-...


-Vem aqui, me abraça.


-Te abraço.


-Já te disseram que você é um homem-aquecedor?


Caíram na risada.


-Como assim?


-É. Com você abraçando assim forte, fervendo desse jeito, a gente não passa frio. E quando você me encerra nos teus braços e as tuas mãos se trançam na minha barriga, eu só sei sonhar, porque da realidade não me resta nada melhor.


-Chocolate. Eu estava pensando em chocolate. Num chocolate que nunca acaba.


-Eu?


Sorriram. E não era preciso se olharem para saberem que ambos sorriam.


-Sabe de uma coisa?


-O que?


-De manhã, quando eu for embora, vou te levar comigo, como a gente leva o gosto do chocolate na boca depois de comer. Você vai sentir falta do pedaço que eu vou levar, vai precisar dele e de mim. Mas nunca mais vai me ver..."


(Parte de um texto escrito por Calexico)

segunda-feira, 10 de março de 2008

Mais de você...


Sem você é como se vivesse aos pouquinhos, pedindo licença e por favor...
Como se cada instante me fosse dado como esmola...

Assim vou me rasgando por dentro e arranhando minhas próprias costelas, abrindo chagas que não tenho certeza se cicatrizarão...

Sua falta caçoa da minha força e sanidade...
Flagelada, preciso mais de você.

Mais de você entre meus dedos, embaraçado entre meus braços e pernas...

...mais de você nas minhas imagens e frases, nas minhas linhas, nas minhas frestas...

...mais de você em um cafuné atemporal, em olhar, em um carinho...
....na minha memória, nos meus sentidos, nos meus gritos e gemidos...

...nos meus dias e noites...

...um pouco ainda nos meus sonhos, para que, assim, possa parir-me ao contrário todas as manhãs e não ter medo de me deitar entre cobras enquanto observo pássaros, ou ferir os pés nas pedras da calçada...

...de chorar miséria, sangrar sorrisos, dançar sobre os trilhos do trem, viver entre a loucura e a sanidade...

Só um pouco mais...
Mais de você em mim...

Se deixe vir comigo...

domingo, 9 de março de 2008

Onde a Terra Acaba


Onde a Terra Acaba
Direção: Sérgio Machado
Produção: Brasil, 2001

Bom, a minha intenção era postar um texto literário ou algum rabisco meu mesmo, mas resolvi aproveitar a deixa do meu xuxuzinho que postou em seu blog um bônus com a trilha sonora do último filme que assisti e trazer para vocês “Onde a Terra Acaba”.

“Onde a Terra acaba” traz a análise sobre a carreira e obra do cineasta Mário Peixoto, o mesmo que realizou, aos 21 (ou 22, não tenho certeza), “Limite”, marco na filmografia brasileira por ser um dos mais inovadores e experimentais filmes da história do cinema mudo.

Traz ainda, fragmentos de um longa inacabado de Mário Peixoto, com esse mesmo nome, e imagens de bastidores das filmagens de "Limite". Essas são suas principais atrações...

Narrado por Matheus Nachtergaele, a vida de Mário Peixoto é apresentada por ordem cronológica: os estudos na Inglaterra, a volta ao Brasil, a aventura com a produção de “Limite”, a experiência não finalizada com “Onde a Terra Acaba” e a sua fuga para o “Sítio do Morcego”...

Aliado a essas imagens, o diretor traz de forma delicada um vasto material de arquivo e depoimentos de gente que conviveu com Peixoto (a atriz de "Limite" Olga Breno, o caseiro de seu "Sítio do Morcego", na Ilha Grande) ou sofreu o impacto de sua obra (Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos e Walter Salles).Nesse material de “making of” podemos ver o diretor de fotografia de “Limite”, Edgar Brazil, inventando planos prodigiosos para resolver questões de um plano de filmagem financiado pelo próprio Mário...

O filme faz um apanhado do pioneirismo de Peixoto, sua inventividade e caráter inovador, apesar de ter escrito outros roteiros, mas só ter produzido “Limite”...
O mais interessante em “Onde a Terra Acaba” é que, quando você vai pensar sobre o filme, acaba por imaginar algo sobre outro filme...

“Onde a Terra Acaba” e “Limite” parecem ser meio híbridos...

Com a trilha sonora circular e atemporal de Antônio Pinto, o que poderia significar algo monótono, acaba por tornar o documentário uma obra lírica e poética, de extremo cuidado e que ressalva ainda mais a questão que tanto atormentava Mário Peixoto, “o tempo”...

....o tempo de cada um, sua frivolidade e inconsistência...

Então, quem quiser baixar uma música da trilha, o bônus está junto com “Central do Brasil”, no Sacundinbenblog.

Ou direto aqui...

Ah, já ia esquecendo...prefiro essa trilha à de "Limite" mesmo, que peca em algumas cenas pela falta de concordância entre a imagem em cena e o "sentimento/sensação" que "quer" passar, como no final, na cena do naufrágio... (nossa! me senti prepotente dizendo isso...pode ser que tenha sido só em mim, vai saber...)

sexta-feira, 7 de março de 2008

Cidades Invisíveis


Cidades Invisíveis

...uma viagem por cidades imaginárias...

...contos onde tudo pode ser sonhado, imaginado, em um discurso que revela o mais escondido dos desejos, o mais inesperado dos sonhos e medos...

...um quebra-cabeças repleto de revelações...

...revelações secretas, porque são percebidas nas entrelinhas do não-dito...

...metáforas que abrem diversas possibilidades de interpretação...

...às vezes parecem perspectivas enganosas, dúbias, ambíguas, paradoxais....

...são cidades para serem percorridas com o pensamento...

...elas tornam-se símbolo da existência humana e de suas relações...

...em cada cidade, uma poesia...


Sinopse

O viajante veneziano Marco Polo descreve para o imperador Kublai Khan as cidades que visitara. O desejo de Khan é montar o império perfeito a partir dos relatos que ouve. São lugares imaginários, sempre com nome de mulher Pentesiléia, Cecília, Leônia. Os relatos curtos são agrupados por blocos: as cidades e a memória, as cidades delgadas, as cidades e as trocas, as cidades e os mortos, as cidades e o céu.

“As Cidades Invisíveis” é o livro onde penso ter dito mais coisas, talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas", escreveu Calvino nas anotações para uma conferência, publicada postumamente como "Seis Propostas para o Próximo Milênio", um de seus maiores hits.

terça-feira, 4 de março de 2008

Barton Fink - Delírios de Hollywood




Barton Fink - Delírios de Hollywood
Joel e Ethan Coen – 1991

Em 1991, “Barton Fink – Delírios de Hollywood” deu aos irmãos Coen o prêmio de melhor filme – a Palma de Ouro – escolha unânime do júri, melhor diretor e melhor ator no Festival de Cannes.

Barton Fink (John Torturro), personagem principal do filme, depois de fazer sucesso na Broadway com sua obra teatral, é recrutado por Hollywood para fazer cinema. Contrariado pela pressão criativa da indústria cinematográfica, instalado em uma espelunca, Barton conhece Charlie Meadows (John Goodman) e se mostra um homem que não sabe ouvir...

E como contar histórias de pessoas comuns se é incapaz de ouvi-las?

Barton é surdo aos apelos do povo. Eles só lhe interessam como apelo estético...
Não como apelo ético...

É uma espécie de máquina de trocadilhos que permeia o filme, a começar por Barton: ambicioso intelectualmente, não aceita que o problema esteja na sua incompetência para entender seu objeto....

Nãããão, ele está é com bloqueio criativo, um misto de demência inteligente...

Atormentado por essa dificuldade de produzir, os irmãos Coen conseguem fazer de Barton Fink um drama irônico com toques surrealistas...

Todas as personagens são um pouco grotescas, exageradas, distorcidas, movendo-se no limiar da “normalidade”...

Humor negro, crimes, personagens perturbados e caracterização irônica (aquela “tipificação” que havia falado anteriormente), “Barton Fink – Delírios de Hollywood” é o paraíso das mensagens subliminares, daquilo que está dito no não dito, das entrelinhas...

Se continuar falando, vou contar o filme...e é melhor não.
Vale a pena assistir!!!


Sinopse
Depois de escrever uma peça política de grande sucesso, o respeitado escritor Barton Fink (vivido por John Turturro) é seduzido por uma proposta irrecusável: criar roteiros para o cinema. Porém, ao se mudar para Los Angeles, o que antes era um instigante desafio profissional acaba se tornando um insuportável pesadelo. Agora, além de ter de agüentar um bloqueio criativo, Barton se vê obrigado a aturar seu vizinho bonachão (John Goodman) e ainda vender sua alma aos interesses comerciais de Hollywood.

Direção: Joel Coen (com Ethan Coen, mas sem crédito oficial). Produção: Ethan Coen, Roteiro: Joel Coen e Ethan Coen. Fotografia: Roger Deakins. Montagem: Joel Coen e Ethan Coen (creditados como Roderick Jaynes).

Trailer "Barton Fink" - Youtube
Roteiro de “Barton Fink” em Inglês

segunda-feira, 3 de março de 2008

Ajuste Final




Ajuste Final (Miller’s Crossing, 1990)

Resolvi fazer uma pequena sessão “Irmãos Coen”. Dessa vez trago “Ajuste Final”. O filme poderia ser mais um filme de gângster, mas nada parece ser o que é no cinema dos Coen. “Ajuste Final” é um mundo criado e fechado em si.

O filme mostra o lado sombrio e selvagem dos seres humanos. Em uma entrevista os Irmãos Coen disseram que a inspiração foi literária, talvez por isso o filme não seja como todo filme de gângster. O que move o filme é a “ética”, mas a “ética” de cada personagem, a “ética” individual (tanto é que um personagem do filme vive repetindo essa palavra).Tudo é um mundo de aparências, um mundo ilusório e perigoso. Todos usam máscaras sociais para iludir os outros e participar deste jogo.

O roteiro é muito bem escrito, rodeado por um humo negro, afiado e violento, com belas atuações, situações inesperadas, fotografias e movimentos de câmera lindos e inusitados, além de uma montagem sensacional, que às vezes nos leva de uma cena a outra com contra-planos ousados. A Direção de Arte também arrebenta. Impecável.

O filme é no melhor estilo film noir, que tem como característica alguns elementos essenciais como a morte, o dinheiro, as armas, a femme fatale, a estética privilegiando cores escuras e ambientes de pouca luz.


O próximo será "Barton Fink - Delírios de Hollywood"


Sinopse
Os criadores de "Fargo", "E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?" e "Intolerable Cruelty" nos brindam com uma visão complexa e gráfica da era dos gagsters nos EUA. Ambientado nos dias desenfreados da Lei Seca, Ajuste Final exibe uma fascinante galeria de perigosos assassinos e capangas Leo (Albert Finney) é um benevolente gangster irlandês e o líder político que comanda o lado leste da cidade com a ajuda do anti-herói Tom (Gabriel Byrne), seu homem de confiança e conselheiro. Mas seu controle da cidade é desafiado por um ganancioso subchefe italiano Johnny Casper (Jon Polito) e seu impiedoso capanga Eddie Dane (J.E.Freeman). Apesar de que Tom tenta mantér a paz, ele se desentende com Leo por causa de uma garota e se vê profundamente envolvido na guerra entre as gangues. Ajuste Final possui ação vibrante, uma fotografia maravilhosa e tiradas de humor Negro. Seu enredo intenso e cheio de surpresas nos leva a um cenário onde nada é bem o que parece ser.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

E ai meu irmão, cadê você?


O filme dos irmãos Coen é uma fábula deliciosa, que celebra a história rural norte-americana, com casos pitorescos que pontuam o período dos anos 1930 nos EUA, como a Ku Klux Klan, tudo embalado em uma trilha sonora impecável de canções country, blues, gospel do período, folk e deve ter também canções tradicionais (eu não sou “expert”, nem entendo muito de música, mas achei tudo muito bom.)

A fotografia do filme é linda. Todo em tons de marrons e verdes, lembra um filme em preto em branco só que com as matizes e o contraste realçados de forma a produzir uma imagem meio que não-naturalista, tipo “O Mágico de Oz”, se é que dá pra entender o que estou falando. E a interpretação dos atores não deixa nada a desejar, engraçados, assumidamente “tipificados” sem desvalorizar em nada o trabalho dos atores.

Li que a trilha sonora do filme contribuiu tanto, que o cd com as músicas vendeu mais cópias que o filme e derivou mais dois álbuns, dois concertos, ganhou o prêmio da música country com o hit “Man of Constant Sorrow”, que também foi escolhida a número 1 da lista da Billboard, e conquistou 5 Grammy`s, incluindo melhor álbum do ano. Mééu Dééus! Imaginem só!


Sinopse
Desencantado com a dura rotina de quebrar pedras numa prisão, fazenda do Mississipi, o engomado e bonitão Ulysses Everett McGill (George Clooney) foge. Exceto pelo fato de estar acorrentado aos seus dois companheiros de cela, o mau humorado Pete (John Turturro) e o doce burro Delmar (Tim Blake Nelson). Com nada a perder e procurado por um tesouro, os três embarcam na aventura de uma vida nesta hilariante e incomum aventura. Habilitado por estranhos personagens, incluído um profeta cego, sereias sexies e um vendedor de bíblias de um só olho (John Goodman). E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? é uma odisséia cheia de caçadas, perseguições e traições que vão fazê-lo gargalhar a cada ultrajante reviravolta.

E Aí, Meu Irmão, Cadê Você (Oh Brother, Where Art Thou, EUA, 2000)
Direção: Joel Coen e Produção Ethan Coen
Elenco: George Clooney, John Turturro, Tim Blake Nelson, John Goodman